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Autor: Inês Mota

A emoção é o nosso primeiro sistema de alarme sobre eventuais perigos no ambiente e, nesse sentido, é uma componente crucial em todas as relações, já que nos permite aceder a informação preciosa sobre o estado dos nossos laços íntimos – se estes estão em boas condições, se precisam de manutenção ou se estão a ser perturbados. No entanto as emoções influenciam também a forma como a pessoa foca a sua atenção e interpreta o que vê em determinada situação.

Especificando: existem dois momentos no processamento da emoção e que vão influenciar as nossas respostas às interacções enquanto casal. O primeiro momento é gerado pelo sistema límbico e assinala ao próprio e ao outro que aconteceu algo importante para o bem-estar e os organiza para determinada tendência de acção. Se sentimos tristeza, temos tendência a retirarmo-nos e a chorar pelo que perdemos ou a procurar ajuda e conforto. Se temos medo podemos tender a submeter-nos perante o outro ou a retirarmo-nos. Neste sentido, as emoções dizem-nos como o corpo está a reagir. O segundo momento é o da reflexão explícita e inclui uma avaliação e reavaliação do que causou a emoção, permitindo decidir o que fazer com as questões colocadas no primeiro momento. Para manter a coerência, incorporamos a informação nas nossas construções de significado, sendo que a forma como acabamos por explicar a experiência a nós próprios influencia como vamos lidar com ela.

Imaginemos a seguinte situação: o marido envia uma mensagem à mulher a dizer que vai chegar mais tarde a casa porque teve uma questão inesperada e inadiável no trabalho, exactamente no dia em que ela tinha preparado um jantar especial para ambos. A mulher poderá sentir-se sozinha e desvalorizada, com tendência para a acção de chorar ou procurar segurança e conforto. Mas só se esta tendência for processada se traduz num comportamento. Antes de exibir um comportamento, a mulher faz sentido da sua experiência, sendo que a forma como irá reagir depende de como explica a situação a si própria. Se evitar automaticamente o medo e tristeza e interpretar a experiência como raiva, pode reagir com raiva; se simbolizar o seu medo de abandono de forma correcta mas não for capaz de tolerar essa emoção, pode interpretar a situação como injusta, e em vez de tristeza sentirá zanga. Se a zanga predominar na organização do self, quando o marido chegar a casa, em vez de conseguir mostrar vulnerabilidade e tristeza, poderá acusá-lo de ser egoísta, insensível ou começar a culpabilizá-lo de questões não exactamente relacionadas com esta situação. Continuando a imaginar o desenrolar da situação, o marido poderá sentir-se ameaçado e, dependendo da forma como compreenda e explique a sua experiência emocional, poderá atacar para se defender ou pedir desculpas.

Os casais têm constantemente em mãos missões tão difíceis como esta, porque o laço que os une permite criar emoções poderosíssimas de ambas as valências e, como vimos, saber o que fazer com elas depende de um processo complexo que permite múltiplas interpretações.

Neste sentido, a emoção é um sensor delicado que permite juntar os casais, mas é também o que os pode afastar.

Tenha então particular atenção aos seus sensores emocionais e se em algum momento precisam de ser afinados ou recalibrados.