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Bruna Rosa

Bruna Rosa

Quando falamos de maus-tratos omitimos muitas vezes uma das formas mais graves e, no entanto, mais silenciosas, de violência: o desamor.

A evolução dos afectos ocorre com alguma linearidade: somos primeiro amados, aprendemos a amar-nos e só depois nos tornamos aptos a amar outros. Os afectos são, de facto, também eles aprendidos.

A experiência de Harry Harlow, um psicólogo norte-americano, sobre a privação social e afectiva em bebés macacos serviu de mote a um olhar mais atento sobre a infância que a partir daí começou progressivamente a ser vista como um ninho de necessidades que se estendem muito para além das inerentes à garantia da sobrevivência.

A negligência afectiva, o não cuidado, o desamor são vividos de forma extremamente dolorosa por todos nós mas na infância tomam um lugar de primazia, influenciando gravemente o modo como a criança irá relacionar-se futuramente.

Nas consultas de Psicoterapia apercebemo-nos muitas vezes de uma tristeza quase visceral (na medida em que parece surgir como uma emoção de base transversal a diferentes experiências, sem diferenciação) associada a uma percepção de não se ter sido suficientemente amado. Ouvimos muitas vezes falar de uma saudade associada a uma ausência vivenciada como sendo incapaz de ser preenchida – “o meu pai nunca me deu um abraço”, “a minha mãe nunca me disse que gostava de mim”. E se é verdade que a adultície nos traz novas possibilidades relacionais, não é menos verdade que este vazio parece alimentar-se pela repetição de um sentido de incapacidade para se ser amado ou um não merecimento do afecto recebido por auto-desvalorização – “se nem os meus pais gostavam de mim, então eu não devo ter grande valor”.

Apercebo-me, de facto, de que os pacientes que não foram ou não se sentiram suficientemente gostados, cuidados, investidos na sua infância parecem tendencialmente construir uma espécie de muralha em torno de si que impede outros de os afectuarem, de cuidarem deles, de os amarem. Esta muralha serve, por um lado, como uma espécie de “escudo narcísico”, impedindo que se repita o ciclo do desamor (eu cuido de mim, logo mais ninguém me pode fazer sentir desprezado) mas, por outro, tende a rigidificar-se bloqueando a expressão afectiva do próprio e de outros (por receio de se ser novamente rejeitado).

Amarmo-nos é uma parte essencial de conseguirmos (termos a coragem para) ser felizes. Permitirmos que outros se aproximem de nós, partilhem afectos e experiencias connosco, nos cuidem, nos amem, é necessário para nos sentirmos mais capazes. O auto-fechamento afectivo, a intolerância à aproximação de outros, bloqueia grandemente a dimensão afectiva da nossa vida, tornando-a necessariamente mais pobre.

A Psicoterapia é uma ferramenta muito útil no apoio à redescoberta e reorganização da nossa vida afectiva, sendo essencial no desbloqueio de emoções mais primárias associadas às experiências de abandono ou negligência afectiva (zanga, tristeza) e ao desenvolvimento de emoções mais adaptativas e gratificantes.

Às vezes, é essencial lembrarmo-nos de que valemos a pena, de que somos, invariavelmente, a nossa maior obra-prima. Esperamos por si no nosso Cantinho psicoterapêutico, na Oficina de Psicologia.