Tempo de Leitura: 2 min

Autor: Margarida Marcão

Os problemas de auto-estima podem fazer-nos aborrecer-nos connosco próprios porque não conseguimos fazer o que pretendíamos, ou ser o que desejaríamos. Pessoas com problemas de auto-estima, descontentes consigo próprias, maltratam-se com palavras, insultam-se, ameaçam-se, desvalorizam-se. A luta contra as emoções e os pensamentos negativos não devem ser uma luta contra si próprio.

Estar permanentemente com dúvidas e insatisfações acerca de si próprio, concentrar-se sempre em como poderia ter sido melhor, ao invés de se valorizar e reconhecer os seus progressos é uma injustiça, e esta injustiça é uma forma de violência feita a si próprio.

Se perante a não obtenção de um objectivo seu não se contentar em lamentá-lo e seguir em frente, mas em vez disso ainda se criticar em excesso ou desvalorizar-se, inflige-se uma pequena dor. Pensará eventualmente que esta punição lhe dará vontade de fazer melhor da próxima vez. Mas o o papel da nossa inteligência não é punir-nos, mas sim de nos ajudar a reflectir para que a decepção não aconteça novamente.

Por vezes temos comportamentos que implementam o insucesso, que são formas de evitar o julgamento de nós próprios. Um exemplo deste tipo de comportamento é não se preparar para um exame, com o intuito de poder dizer, se se reprovar, que o insucesso de deveu à despreparação e não a uma possível falta de inteligência. Estas implementações de insucesso podem incluir também um aspecto auto-punitivo: «se não estudei, não mereço ir de férias, sair esta noite, beneficiar de certa recompensa… ».

Esta “guerra” contra o próprio pode ter várias origens. Pode ser um prolongamento e repetição das carências da infância (o não gostar de si próprio é frequente em pessoas que foram carenciadas de afectos na sua infância); pode resultar de se ser vítima dos próprios ideais, não aceitar nada além da perfeição e, neste caso, é a decepção com o próprio que despoleta a auto-agressão; ou ainda porque se acredita que ser duro consigo próprio é benéfico, uma vez que se se for muito brando se arrisca a ser medíocre.

Muitas pessoas acreditam que têm que se punir para mudar. Se for este o seu caso, saiba que a psicologia há muito tempo vem mostrando que a punição serve muito pouco como utensílio pedagógico. Skinner, um dos maiores especialistas do estudo científico do condicionamento, dizia que «a punição ensina apenas uma coisa: a evitar a punição». A punição poderá servir, eventualmente, para manter a ordem, não para criar um ambiente psicológico de motivação ou mudança pessoal.

Todas as formas de violência, incluindo a violência contra o próprio, são um uso abusivo da força. Acreditar que força e severidade contra si são suficientes para mudar é uma visão errada e ineficaz. O que vai acontecer é que, pouco a pouco, se instala uma lógica de violência, que facilita o regresso sistemático dos mesmos erros e do mesmo sentimento de insatisfação. Como os resultados que se desejam não são suficientes, aumenta-se a severidade das punições infligidas. À tristeza do insucesso junta-se a da punição. Mas sofrer não faz progredir. O que faz progredir é compreender porque sofremos e como superar esse sofrimento. A punição e a violência não nos ensinam nada nesse domínio.

Deverá então ser mais duro ou mais gentil consigo mesmo? Lembre-se em primeiro lugar que o contrário da violência, não é a fraqueza, mas a gentileza. Podemos perfeitamente ser gentis e firmes connosco mesmos ao mesmo tempo.