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Gustavo Pedrosa

Gustavo Pedrosa

Tal como nos estabelecimentos comerciais, também as relações têm uma caixa de reclamações. Só muda o formato, pois deixam de ser em papel para passarem a formato “memória”!

Todos nós ligamos quem nos rodeia a situações, comportamentos e emoções distintas. Poderemos considerar uma situação natural, pois serve para organizarmos os nossos contactos sociais, balizarmos expectativas em relação aos mesmos e protegermo-nos de eventuais situações de desconforto ou exposição emocional exagerada.

No entanto, nas relações, além dessa organização, parece estar associada uma série de outras características e factos. Dado que a ligação do casal é por vezes tão profunda e longa quanto rotineira e dependente, quase existe uma longa lista de queixas que muitas vezes se sobrepõem à lista de características positivas.

Essas listas de reclamações, por muito pequenas e insignificantes que sejam, vão ficando marcadas nas nossas memórias e teimam em criar um mal-estar mental e até físico perante o cônjuge, numa situação de iminente conflito ou desacordo. Só que, muitas vezes cheias de pequenas situações e discussões insignificantes, têm um limite de “memória”. Atingindo esse patamar, todas as pequenas dificuldades se tornam num gigantesco problema. Nesta situação já a comunicação está profundamente “contaminada”, a empatia é quase inexistente e o comportamento está afectado pelo sentimento de competição que tende a surgir no casal.

Nestas situações, quando a caixa de reclamações “rebenta”, quase como uma caixa de Pandora que se abriu, surgem todo o tipo de sentimentos negativos e múltiplas acusações. Na maioria das situações o discurso é algo do género: “Estamos juntos porque nos amamos, mas eu já não o/a suporto!”.

Nestas alturas, o casal deverá repensar a relação, mas sem ser numa perspectiva de “começar de novo”, pois pode ser visto como impossível. E, realmente, com tão longa lista de queixas e de acusações, não será fácil colocar para trás tanta memória, mesmo que sejam pormenores insignificantes.

Assim, o casal deve repensar a comunicação, baixar a acusação ao máximo e estar atento ao “preconceito comportamental” e às expectativas. A identificação dos comportamentos acusatórios e dos preconceitos será o primeiro passo – ajuda a compreender o quando e, eventualmente, o porquê do aumento das listas de queixas e de reclamações.

Assim, a auto consciencialização dos comportamentos, do mal-estar/desconforto, e da acusação será o primeiro passo que o casal deve dar. Só assim conseguirá compreender quanto existe de negativo na sua relação; qual o grau de “contaminação” da comunicação; qual a origem da maioria do desconforto.

Tomem esse primeiro – e difícil – passo. Certamente acrescentará mais itens à lista de auto reclamações mas também retirará alguns da lista do outro.