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Autor: Vanessa Damásio

As relações de casal são das relações humanas mais complexas e difíceis, que envolvem um grande investimento, adaptação, compreensão, comunicação, amor e aceitação. Para se atingir a satisfação há um longo caminho a percorrer…

A satisfação nas relações de casal pode ser mediada pelas estratégias que o casal encontra para resolver os conflitos. É comum e natural que os casais discutam, tenham conflitos e desentendimentos, mas o fator mais importante é a forma cooperativa como os casais abordam e resolvem os mesmos. Entre casais heterossexuais, os estudos indicam que os casais que reconhecem as suas diferenças e resolvem os seus conflitos, tendem a sentir maior satisfação nas relações, do que os que não o fazem (Gottman & Levenson, 1992).

Para além disto, a segurança e o compromisso financeiro, emocional e sexual são dos fatores considerados como mais importantes para o estabelecimento de relações de casal satisfatórias e duradouras. Contrariamente, conflitos sobre a gestão de dinheiro, intrusão do trabalho na relação, passar muito tempo separados, estão relacionados com uma pobre qualidade em cada tipo de casal.

Todos estes fatores: conflitos, problemas financeiros, emocionais e sexuais afetam tanto casais heterossexuais como homossexuais. Quando em relação, os seres humanos preocupam-se e discutem por coisas semelhantes, e gostam e amam igualmente coisas muito semelhantes.

Onde estará a diferença?

Será que realmente existe uma grande diferença entre casais hetero e homossexuais?

Segundo Kurdek (1991) tanto casais homossexuais femininos ou masculinos como casais heterossexuais não diferem no que toca às estratégias de resolução de conflitos.

A base das dificuldades de resolução de conflitos está nas interações disfuncionais como a pobre comunicação, agressividade verbal e não-verbal, desistência, evitamento, lutas de poder e perceções e interpretações erróneas dos comportamentos e discurso do outro. Por exemplo, casais que focam os comportamentos negativos do outro e se culpam mutuamente, mais facilmente entram na espiral de interações negativas durante discussões e conflitos.

Ou seja, ambos casais homo e heterossexuais têm conflitos, e apresentam dificuldades em resolve-los, sendo que o que facilita a resolução, não é o género dos casais, mas sim as estratégias e recursos que possam ter para ultrapassar as dificuldades.

Para além disto, alguns investigadores, e a minha prática clínica, confirmam que os casais homossexuais femininos são maioritariamente mais emotivos, românticos, e focados do que os casais homossexuais masculinos e heterossexuais.

Denota-se assim uma grande capacidade de expressão emocional, compromisso e igualdade na relação. Estas características, que reforçam a qualidade da relação lésbica, poderão estar influenciadas pelo tipo de aprendizagem e socialização feminino que propicia e desenvolve as capacidades de expressão emocionais.

Quer sejam casais hetero ou homossexuais, creio que a grande diferença está apenas na própria individualidade de cada ser humano, das aprendizagens e socializações que viveram, na história de vida que tiveram, nas relações em que cresceram e não no tipo de orientação sexual e consequente casal que formam.

Efetivamente, as relações humanas são complexas, mas essenciais à construção e desenvolvimento de cada ser humano. É nas relações que cada um de nós cresce, aprende, e contacta consigo mesmo e com o outro.

O vínculo primordial que une cada ser e que permite esta construção é simplesmente o vínculo do amor. Não são as ideologias, o poder ou o dinheiro que nos une, mas especialmente o AMOR. É este sentimento primário que na base une cada ser, independentemente da sua preferência política, classe social ou orientação sexual.

É através dos vínculos humanos e desta perspetiva humana, que se formam casais quer heterossexuais, quer homossexuais, relações de casal que talvez não sejam assim tão diferentes como se poderá pensar à primeira vista!