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Catarina Cunha

Catarina Cunha

“A humanidade consegue suportar as piores calamidades do mundo, exceto as da cama” (Tolstoi)

Falar de sexualidade é, ainda hoje, um tabu na nossa sociedade. O que se passa debaixo dos lençóis fica, muitas vezes, reservado à intimidade do casal. Às vezes até entre o casal pode haver dificuldades em falar de certos assuntos da sua sexualidade.

E quando surge um problema na dinâmica sexual do casal, como será que os homens e as mulheres lidam com isso? Será que é fácil procurar ajuda para uma disfunção sexual?

Uma disfunção sexual define-se como uma “perturbação do desejo sexual e das modificações psicofisiológicas que caracterizam o ciclo de resposta sexual e provocam acentuado mal-estar e dificuldades interpessoais” (DSM-IV TR, APA, 2000). Ou seja, uma disfunção sexual pode ser qualquer alteração na resposta sexual (quer seja, na capacidade de sentir desejo sexual, de sentir excitação, de alcançar o orgasmo, etc.) do indivíduo, que provoque mal-estar e afete a sua vida e as suas relações.

Em qualquer altura da vida podemos nos ver afetados por uma disfunção sexual, sendo que as taxas de prevalência são muito variáveis (e.g. prevalência da disfunção erétil é de 10% e 25% para problemas do orgasmo feminino). Estes números são ainda significativos, o que significa que muitas pessoas têm, neste preciso momento, uma dificuldade sexual. No entanto, os estudos mostram que a percentagem de pessoas que procuram ajuda (médica e/ou psicológica) é muito reduzida (e.g. apenas 30% dos homens com disfunção erétil). O que justifica estes dados?

Como refere Tolstoi, “a humanidade consegue suportar as piores calamidades do mundo, exceto as da cama”. De facto, na nossa cultura ocidental, a sexualidade e, especificamente, as disfunções sexuais, encontram muitas barreiras à sua abertura para o público. Poucos são os bravos que se aventuram a advogar pela discussão sobre a sexualidade.

Por um lado, este facto pode estar relacionado com a nossa educação religiosa e os valores que esta incute, relativamente à sexualidade, de castidade, pureza e de culpabilização por atos sexuais que não visem a reprodução.

Por outro lado, os próprios papéis de género, aprendidos em sociedade, também influenciam a nossa facilidade ou dificuldade em abordar as questões sexuais. Os papéis de género são as caraterísticas tipicamente atribuídas aos homens e às mulheres e, no caso da discussão da sexualidade, é mais fácil para um homem falar em público sobre sexualidade do que para uma mulher – que supostamente deve ser mais recatada e pura. No entanto, em grupos mais pequenos, em que exista maior intimidade nas relações (e.g. grupo de amigos/as), denota-se que as mulheres têm maior à vontade em discutir as suas experiências sexuais e as suas dificuldades, do que os homens, que ficam apenas por referências superficiais de quantidade e não de qualidade. Principalmente no que toca às dificuldades sexuais, os homens encontram inúmeras barreiras, uma vez que admitir que se tem um problema sexual vai contra a sua imagem masculina, de homem com “H grande”.

Porém, o que nós, na Oficina de Psicologia, sabemos, é que não falar sobre o assunto não o vai fazer desaparecer. Portanto, se tiver alguma dificuldade sexual, tente sempre procurar conselhos e um ouvido experiente, para que um pequenino problema não se torne num “problemão”.