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Autor: Marta Porto

“Vou para o estrangeiro e tentar a minha sorte.” “Vou mudar a minha vida e largar todas as amarras e partir em aventura”. “Vou fazer um corte radical, é uma nova fase da minha vida.”

Quem nunca ouviu estas palavras?

Ao procurar o bem-estar, é natural pensar que o iremos alcançar com grandes mudanças, com atitudes radicais, como se a transformação do mal-estar só pudesse ocorrer em contextos opostos aos que estamos habituados.

Caímos, então, na ratoeira das grandes mudanças floridas que são muito visíveis do ponto de vista externo, o que acarreta invariavelmente comentários dos outros que congratulam a nossa coragem, “Se eu tivesse oportunidade, faria o mesmo que tu”. Este eco externo provocado no contexto que nos rodeia, faz-nos cair ainda mais profundamente na ilusão que estamos tão diferentes que toda a gente parece reparar e olhar para nós com admiração e alguma inveja. Sentimo-nos, numa primeira fase, efetivamente diferentes e com uma vontade intensa de mudar o mundo também.

Assim como uma casa que não tem alicerces fortes, esta falsa estrutura criada acaba por desmoronar-se de um dia para o outro. E porquê?

Qualquer mudança promotora de bem-estar só faz realmente a diferença se tiver eco interno, o que não implica neecessariamente a existência de um visionamento externo, como acontece nas grandes mudanças que são muito giras até entrarmos novamente na rotina que tínhamos.

A mudança interna implica pequenas mudanças ao longo do tempo, pois não é de um dia para o outro que transformamos a pessoa que fomos durante anos seguidos. Esta transformação implica tempo e dedicação de forma a ficar consolidada para que, então, possamos alcançar aquele bem-estar tão desejado.

Neste momento, surge a questão: “Está bem, muito bonito, mas como é que podemos, então, mudar e sentirmo-nos bem?”.

Como tudo na vida, a resposta não é linear. Cada pessoa é um mundo, com as suas idiossincrasias, medos, angústias, sonhos e desejos. Muitas vezes, esta transformação ocorre quando nos reencontramos e redescobrimos a nossa essência, outrora abafada na esperança de ser suportável viver com capas que não nos assentam. Chega, então, a altura em que não aguentamos mais esta personagem criada e partimos à busca de nós próprios, recorrendo inúmeras vezes às tais grandes mudanças floridas que invariavelmente nos colocam uma vez mais na meta da partida.

Cada pessoa tem a sua forma de atingir a meta da chegada, sendo que o processo psicoterapêutico é um dos caminhos possíveis que nos permitem realizar as pequenas ou grandes mudanças essenciais para serenamente descobrir todos os dias, tudo o que temos para descobrir.