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Autor: Marisa Gamboa

“Quando eu me encontrava na metade do caminho da nossa vida,
vi-me perdido numa selva escura,
e a minha vida não mais seguia o caminho certo.
Ah, como é difícil descrevê-la!
Aquela selva era tão selvagem, cruel, amarga,
Que a sua simples lembrança me traz de volta o medo.”
Dante, A Divina Comédia

 

Alguém que pare com isto, de más notícias está o inferno cheio! Hoje, escutamos notícias, más notícias mais más notícias!

Tão importante reinventarmos novos caminhos… relembro o autor Cyrulnik, que conta numa das obras a fábula que atribui a Charles Péguy. “ A caminho de Chartres, Péguy vê à beira da estrada um homem a partir pedras com um grande malho. Tem a infelicidade estampada no rosto e a raiva nos gestos. Péguy pára e pergunta: O que está a fazer, senhor? Não está a ver – responde o homem – que só consegui este trabalho estúpido e doloroso. Um pouco mais longe, Péguy vê outro homem também a partir pedras, mas o seu rosto está calmo e os gestos são harmoniosos. O que está a fazer senhor? Ora, ganho a vida graças a este trabalho cansativo mas com a vantagem de ser ao ar livre, responde-lhe. Mais longe ainda, um terceiro pedreiro irradia alegria. Sorri ao bater o malho e observa com prazer os bocados de pedra. O que está a fazer? Eu – responde este homem – estou a construir uma catedral.

Trata-se, considero, de esperança! Não a consigo definir mas oiço-a constantemente, com verdadeiros exercícios de malabarismo, daqueles que transformam o sofrimento, daqueles que se reconstroem, daqueles que transformam a eventual má notícia não parando, não desistindo, perdendo e correndo…aplaudo tamanha coragem. Mas também aplaudo, aqueles que não conseguem, que não podem, que sofrem lesões demasiado duras e violentas, que são sistematicamente assaltados por dor e sofrimento, com esses, partilho caminho e assumo responsabilidade, com esses trabalho o milagre da relação, escuto, acolho e abraço e procuro com os mesmos ferramentas, instrumentos de coragem e superação – a construção da catedral.

Parece que o momento actual nos pede que sejamos “Super-homens”. Mas até o super homem, entristecia, quando não brilhava, quando não vivia momentos e experiências radiantes, as proezas e destrezas possivelmente seriam transformadas em barulho ou vazio!

Não existem, na minha opinião, super-homens, mulheres e homens perfeitos! Existem más notícias, existem desequilíbrios, existe revolta, existe impaciência e existe claramente uma enorme crise a par da crise financeira, a crise de princípios e valores que não nos permite sermos por inteiro. Mudo de opinião…perante tamanhas crises, parecem existir verdadeiros super homens e super mulheres! Posso mudar de opinião?