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Autor: Margarida Marcão

O complexo é a focalização dolorosa e obececante, constante ou muito frequente, num conjunto de pensamentos sobre uma característica ou uma dimensão da personalidade, julgada como insuficiente ou inadequada, e que vai perturbar o nosso bem-estar mental e o nosso comportamento social. Duvidar de si mesmo ocasionalmente e não estar totalmente satisfeito(a) com todas as suas características é normal, mas o complexo ultrapassa bastante o estado de insatisfação ocasional.

Os complexos são muito frequentes e variados. Uma sondagem levada a cabo pela revista Psychologies mostrou que as coisas que mais duvidamos em nós são da nossa cultura (70%), da capacidade de nos exprimirmos correctamente (69%), das nossas capacidades intelectuais (67%) e do aspecto físico (54%).

A «arte de complexar» pode surgir mesmo quando não estamos perante o olhar ou o julgamento de outrém. Por exemplo, quando nos pomos a contemplar as qualidades de outra pessoa e nos comparamos desfavoravelmente com ela: «Ele cozinha muito bem, muito melhor que eu, nunca vou cozinhar como ele, nem me atrevo a aproximar-me do fogão se ele estiver a cozinhar.» Simplesmente há pessoas que desempenham melhor algumas tarefas que outras, e a maioria das vezes isso acontece pela experiência adquirida e pelo esforço dedicado à tarefa. Não lhe parece que o Gordon Ramsay se tornou um chef tão famoso por ter feito uns ovos mexidos um par de vezes pois não? Além disso, e pegando no exemplo do Chef Ramsay, pode não ser tão genial na cozinha como ele mas muito possivelmente será melhor que ele noutros domínios.

Os complexos são agravados e perpetuados por atitudes como:  

  • Obedecer ao complexo , ou seja, renunciar a expôr-se aos olhares ou aos julgamentos, fugindo às ocasiões onde terá que revelar o seu suposto defeito (não falar para que os outros não notem a sua falta de cultura, não usar biquini,…).
  • Não se expor a menos que o complexo esteja «compensado» ou sob controlo (não tomar a palavra a não ser perante pessoas conhecidas, não sair de casa sem maquilhagem,…).
  • Sacrificar a sua liberdade ou a sua dignidade para ser aceite.

Não existe «uma» solução que combata infalivelmente os complexos, mas um conjunto de esforços, conjugados, irão a pouco e pouco minimizá-los:

  • Compreender de onde vem o complexo: Ambiente educativo desvalorizante? Certos acontecimentos da vida? Já teve a experiência de ser rejeitado(a) porque mostrou esse defeito? E, nesse caso, essa experiência ainda faz sentido depois de tantos anos? Faz sentido relativamente às pessoas com quem se relaciona actualmente?
  • Observar os outros, ver como «defeitos» semelhantes aos seus não impedem as outras pessoas de viver livremente.
  • Falar com os outros. Os complexos alimentam-se da vergonha e do isolamento, ao falar com pessoas próximas sobre eles, enfraquecemo-los.
  • Escutar mais atentamente a opinião dos outros quando eles dizem que não tem razão para duvidar de si, fazer o esforço de se lembrar frequentemente das opiniões positivas exteriores e benéficas.
  • Lutar contra a «paranóia do complexo». Quando os outros olham para si não significa que estão a observar os seus pontos fracos!
  • Confrontar-se. Ao colocar-se progressivamente em situações potencialmente embaraçosas, sem se agredir, consegue pouco a pouco, por mecanismos de atenuação progressiva de resposta emocional, contestar mais facilmente os pensamentos ligados ao complexo.
  • Ampliar a visão sobre si, ver-se como uma pessoa global e não se reduzir às suas fragilidades, aos seus limites, aos seus defeitos. Não se concentrar nas suas falhas. Aquela parte que não gosta em si não é mais do que uma parte.

Para lutar contra os complexos teremos que, por um lado, aceitar essa parte de nós, supostamente inadequada e, por outro lado, ampliar a nossa visão sobre nós mesmos.