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Nos tempos que correm, muito se fala de meditação e da importância da sua integração nas actividades do dia-a-dia. Mas que benefícios se conhece desta actividade?

Imagine a seguinte situação: Se pedisse aos seus familiares e/ou amigos para enunciarem os benefícios que uma prática regular de meditação lhes poderia conferir, o que acha que responderiam? Muito provavelmente, a maioria, tenderia a apontar para o relaxamento físico, psíquico, sensação de leveza ou sensação generalizada de bem-estar. O que estaria correcto, mas, à luz do conhecimento científico actual, incompleto.

Pois, é que de acordo com um recente estudo, conduzido por uma equipa de psiquiatria do Hospital Geral de Massachusetts, Estados Unidos da América, e publicado na edição de 30 de Janeiro de 2011 do Psychiatry Research: Neuroimaging, no qual analisaram de que forma a meditação poderia afectar o cérebro, foi verificado que uma prática regular desta actividade, até oito semanas, podia provocar alterações consideráveis em determinadas regiões cerebrais, relacionadas com a memória, auto-consciência e stresse.

No estudo, foram analisadas imagens da estrutura cerebral de 16 voluntários, obtidas através de exames de ressonância magnética, feitos nas duas semanas anteriores e posteriores a um curso de Mindfulness, para redução de stress, de oito semanas de duração. Este curso, implicava encontros semanais para uma prática de meditação, e gravações áudio para uma prática de meditação guiada, em casa, e foi solicitado a todos os voluntários que registassem o tempo diário dedicado à prática, o que resultou numa média individual de 27 minutos. Para fins comparativos, os investigadores analisaram ainda as imagens da estrutura cerebral de um grupo de controlo, que não praticou qualquer meditação.

Os exames de ressonância magnética, realizados após as oito semanas do curso de Mindfulness, revelaram resultados surpreendentes, verificados apenas no grupo experimental: um aumento da densidade da massa cinzenta do hipocampo, região cerebral ligada à aprendizagem e memória, bem como das estruturas cerebrais ligadas à auto-consciência e percepção, traduzindo-se na prática, em benefícios cognitivos e emocionais, até aqui pouco conhecidos. E foi ainda verificada uma diminuição da densidade da massa cinzenta na amígdala, o que se reflectiu na redução dos níveis de ansiedade e stresse dos participantes do grupo experimental.

Mas, mais há a acrescentar à lista de benefícios da prática regular de meditação. De acordo com os resultados de um estudo iniciado em 2009 e seguido já em 2011, conduzido na Universidade da Califórnia, Estados Unidos da América, citado na edição on-line de 14 de Julho de 2011 do ScienceDaily, a meditação regular pode mesmo alterar a estrutura física do cérebro, fortalecer as conexões cerebrais, que promovem uma maior rapidez na transmissão de sinais eléctricos, e ainda, retardar a atrofia cerebral, que tende a registar-se com o avançar da idade.

Este estudo comparou um grupo de 27 praticantes de meditação, com um grupo de 27 não praticantes, sendo cada um deles constituído por 11 homens e 16 mulheres. O número de anos de prática de meditação variou de 5 a 46 anos, e os estilos de meditação incluíam o “Shamatha”, o “Vipassana” e o “Zazen”, sendo praticados em exclusivo ou em combinação com outros estilos.

Foram analisadas as imagens cerebrais, dos 54 participantes, através de tensores de difusão, que permitiram observar a conectividade do cérebro. E a este nível, as diferenças entre o grupo experimental e o de controlo parecem não estar confinadas a uma única região cerebral, envolvendo, todos os lobos cerebrais, o corpo caloso anterior, as estruturas límbicas e ainda o tronco cerebral. Também a atrofia cerebral do tecido da substância branca, naturalmente relacionada com a idade, parece ser consideravelmente reduzida no grupo de praticantes de meditação.

Tais resultados, embora recentes, são espantosos, e anunciam naturalmente um longo caminho de investigação científica a percorrer. Mas, por agora, demonstram uma plasticidade cerebral fascinante, que nos permite entender a meditação como uma benéfica e poderosa ferramenta, capaz de fortalecer o cérebro, atrasar a sua atrofia natural, e ainda molda-lo no sentido de aumentar o nosso bem-estar e qualidade de vida.