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Autor: Inês Mota

Viver em casal e mais concreta e especificamente viver em casal partilhando um espaço é sempre uma etapa de novidade, desafio, encantamento, alegria e celebração.

É também e simultaneamente uma etapa preenchida por confrontos, ressentimentos, zangas e desilusões.

Com alguma frequência em terapia individual, membros de casais em início de convivência conjunta, se queixam da emergência das inesperadas dificuldades que esta fase acarreta, justamente quando tudo parecia adivinhar a continuidade da vivência da “história encantada” que de repente se parece transformar num desesperante pesadelo.

Um pedido para os recém- casais: que reconsiderem olhar para esta face “aparentemente mais negra” da vivência em casal com alguma naturalidade.

De facto, a etapa de formação e afirmação de qualquer casal é sempre uma etapa inteira de novidade, mesmo para aqueles que já fizeram uma travessia em casal no decorrer das suas vidas.

E é sempre uma novidade pois são sempre dois seres únicos com as suas singulares particularidades, que se articulam em determinado momento das suas vidas, e que se aliam, inter-relacionam e interdependem de forma absolutamente ímpar e excecional.

Para além das nossas convicções de experiências vividas, conselhos recebidos ou crenças acerca do funcionamento do casal, é importante que cada membro do casal, sobretudo na emergência dos conflitos, se permita a olhar para si, para o outro com o qual se relaciona e para esta relação, como se fosse uma primeira vez…

Apesar de parecer elementar este pedido de olhar de forma atenta e curiosa como se fosse uma primeira vez deriva apenas do facto provado… de que é de facto a primeira vez que uma pessoa única se articula com outra pessoa única e que ambas formam um casal único, com a conjugação de todas as suas forças e pontos de colisão.

Estes pontos de colisão podem advir de vários fatores e poderão estar a ser alimentados por exemplo por mitos oriundos das famílias de origem, tais como “um casal não discute”, ou “discute de uma determinada maneira”, sendo que muitas vezes os mitos não são coincidentes para ambos os membros do casal.

Muitas vezes também os atritos surgem, pela emergência de um cruzamento de padrões relacionais desenvolvidos, mantidos e experienciados até então como positivos em relações significativas e que na nova relação de casal emergem agora como “pontos problemáticos”.

Ora, é importante que cada membro do casal se aproprie da ideia de que todas estas situações não são senão naturais, pois não nascemos ensinados de como se processa e vivencia a aventura do casal e sobretudo porque não existem formas certas ou erradas de estar, ser e agir. As mais certas serão aquelas que melhor se adequam a cada novo casal.

 

Por saber que todas estas questões não são fáceis de desvendar para o casal que provavelmente se encontra com a visão saturada, ou “cego” de olhar para uma luz de conflito incandescente, surge a possibilidade de se juntar um terceiro olhar, distanciado e neutro, o do terapeuta de casal, que de facto olhará por outras lentes e pela vez primeira para o casal.

E assim, neste espaço terapêutico, o casal poderá atuar, fazendo emergir os pontos de colisão, deles tomando conhecimento e desenvolvendo, formas de os dissolver. O que é surpreendente é que muitas vezes o volume dos atritos é serenado de forma breve, neste reencontro do casal em terapia, que de forma ágil aprende a conhecer-se enquanto casal e cada um a conhecer-se a si e ao outro enquanto pessoa, e juntos aprendem a antecipar e contornar os pontos de colisão, para continuarem a aventura da sua viagem encantada em segurança e tranquilidade.