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Autor: Rita Castanheira Alves

O diário do meu filho, o meu diário, o diário de cada um

Os pais de filhos a entrar no período da adolescência sentem frequentemente a diminuição da partilha e diálogo por parte dos filhos: “ – Fica no quarto, está sempre às mensagens, já não conta como correu o dia… E não era assim…” Dizia-me uma mãe com a filha de 15 anos ao lado, que de braços cruzados alternava entre um sorriso empático de boa educação e um revirar de olhos que mais tarde teve tradução: “ – Eu já tentei explicar à minha mãe, ela é que precisa de ter umas consultas com um psicólogo.”

Actualmente não é novidade para grande parte dos pais que a entrada na adolescência se caracteriza por um maior afastamento dos pais, construir e experimentar identidades e uma aproximação ao grupo de pares. O que parece continuar a ser difícil é o reconhecimento de que cada um de nós tem o seu mundo, ideias, pensamentos e sentimentos próprios, que por vezes não queremos partilhar com ninguém. Queremos ser nós a “mastigá-los”, a saboreá-los e a testá-los. E isto cria-se desde pequeninos, desenvolve-se desde que somos crianças: o direito a um espaço próprio, a coisas que são só da criança e mais tarde do adolescente. Quando é pequena, uma casinha, uma tenda ou até debaixo da cama (quando a cama é alta) pode ser o sítio onde a criança sabe que é o seu refúgio, convida quem quer e pode lá estar sozinha, ou simplesmente ter uma gaveta ou uma caixinha, que é só sua.

Mais tarde, o diário. Recomendo frequentemente aos pais de pré-adolescentes e de adolescentes: a oferta de um diário e o compromisso – oferecer sem questionar se irá escrever, se já escreveu e o que escreveu e tentar não ser vencido pelo receio, preocupação, ansiedade de poder ter as respostas e partilhas que os filhos no momento não querem fazer.

É duro mas contribui para a construção da identidade do seu filho, para ter um espaço de desabafo, “descarregar emoções” que se não “saem” podem ter o perigo de se transformar em emoções negativas e comportamentos menos desejáveis. Acima de tudo, fomenta o respeito pelo outro, a confiança na família e o saber que se vive em conjunto mas também há lugar para o espaço de cada um.

Porque não cada um ter o seu diário?