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Pedro Barbosa da Rocha

Pedro Barbosa da Rocha

O stress tomou conta de si? Perceba como a pele, o cabelo e as unhas o revelam

A perda de um trabalho, dificuldades financeiras, o súbito diagnóstico de uma doença grave, a morte de um ente querido, exames escolares – o que têm em comum? De forma sintética, envolvem stress. Adicionalmente, é certo que “cada pessoa é uma pessoa”, apresentando características fisiológicas, metabólicas e comportamentais diferentes. Apesar de ser consensual que o stress pode produzir efeitos marcados e distintos no ser humano sob os pontos de vista físico e psicológico, também se sabe que pode revelar-se por meio de problemas dermatológicos como acne, queda de cabelo ou unhas quebradiças.

A investigação e a prática clínica têm vindo a comprovar que, em doentes com eczema, rosácea, acne e psoríase o stress pode agravar o quadro sintomatológico, podendo inclusivamente desencadear reações “galopantes”, contribuindo, por mecanismos de retroacção, para um aumento dos níveis de stress. Assim sendo, torna-se importante reconhecer e saber como gerir os efeitos do stress na pele, de modo a regular a ansiedade e os sintomas.

Pele. Em situações de desgaste a quantidade da hormona do stress (cortisol) em circulação no sangue aumenta de forma significativa. Este facto leva a um aumento da produção de óleo pela pele, que poderá conduzir a um aumento da oleosidade, acne e problemas relacionados. Mesmo os doentes sem propensão para o desenvolvimento de acne podem padecer da doença em períodos de maior stress. Adicionalmente, a investigação tem demonstrado, por exemplo, que o stress desempenha um efeito negativo na função de barreira da pele, resultando numa perda de água que inibe a capacidade da pele de se auto reparar após uma lesão.

Cabelo. Para além de uma multiplicidade de razões que podem levar à queda de cabelo, o stress parece ser um dos factores explicativos mais importantes quando perante situações de perda de cabelo de causa desconhecida. De resto, a queda do cabelo pode ocorrer até três meses após a ocorrência de um acontecimento gerador de stress. Neste tipo de situações, por norma o cabelo apenas volta a crescer num período de seis a nove meses.

Unhas. Também as unhas são um elemento que pode sofrer profundas consequências de situações de stress, existindo pessoas que, sobretudo nestes períodos, desenvolvem hábitos e/ou tiques como “roer” ou “arrancar” as unhas. Para além do stress físico e emocional, determinadas doenças e a realização de tratamentos de quimioterapia podem originar o surgimento de linhas horizontais brancas nas unhas. Outro efeito igualmente comum é o carácter “quebradiço” e “descascável” das unhas.

Para além de todos estes problemas, considerados mais comuns, existem outros ainda mais graves e inesperados, autoinfligidos na pele, no cabelo e nas unhas, e relativamente aos quais as pessoas não têm consciência da relação entre a situação de stress original e o comportamento em causa. Neste tipo de situações mais extremas, torna-se primordial a intervenção psicológica com vista à mudança comportamental.

Considerando o que foi referido, perante problemas de pele, nomeadamente aqueles em que a exacerbação sintomática em períodos de stress se torna particularmente evidente, como no caso do eczema, acne, psoríase ou dermatite seborreica, torna-se fundamental uma boa articulação entre o psicólogo e o dermatologista. Desta forma, através de um reconhecimento precoce dos sinais/sintomas característicos, a acção concertada destas duas especialidades (por meio da implementação de estratégias de gestão de stress e de medicação adequada) pode atenuar e reduzir a velocidade de instalação dos sintomas, proporcionando um maior controlo sobre a doença em períodos mais stressantes.

Assim sendo, eis algumas dicas que poderão ajudar na prevenção e no controlo dos sintomas de stress na pele, no cabelo e nas unhas:

– Ser realista e não tentar ser perfeito, ou esperar que os outros o sejam. “O óptimo é inimigo do bom!”;

– Não programar demasiado a sua agenda. Proporcionar espaço para a realização de actividades de lazer;

– Cuidar do seu sono, procurando dormir em boa quantidade e qualidade;

– Realizar exercício físico, uma vez que o mesmo contribui para a libertação de endorfinas (analgésico/relaxante natural) no corpo, reduzindo os níveis de stress;

– Seguir uma dieta saudável;

– Evitar banhos muito quentes, privilegiando a utilização de sabonetes sem detergente. Hidratar o mais rápido possível após o banho;

– Usar diariamente um protector solar de largo espectro, factor 15 ou superior, para proteger a pele da exposição solar.

– Aumentar o seu autoconhecimento, por exemplo, por meio de psicoterapia, no sentido de poder aprender a reconhecer os problemas subjacentes que poderão desencadear os sintomas e de poder desenvolver competências que permitam minimizar e controlar o stress.