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Cláudia Sintra Vieira

Cláudia Sintra Vieira

De facto, durante algum tempo acreditamos que os nossos filhos têm de nos contar tudo, pois se não o fazem pode representar que já não confiam em nós, que não somos tão importantes para eles ou porque acham que não os iríamos compreender.

Por outro lado, pensamos também que,por não sabermos o que se passa com eles, podemos não conseguir protegê-los. Então, sentimos que temos de saber tudo sobre o que fazem, com quem se dão, onde vão, que conversas têm com os amigos. É quase como se quiséssemos continuar a ser especiais para eles. Mas e isso é errado? – pergunta você.

Não, não é errado. Todos nós, de uma forma ou outra, gostamos de ser especiais para os outros. A questão é: será que as estratégias que utilizamos, para continuarmos a ser especiais, únicos e importantes para os nossos filhos, são as que nos permitem continuar a sê-lo?

E uma das estratégias que, muitas vezes, utilizamos é a de tentar, a todo o custo, mantermo-nos presentes na vida dos filhos adotando todo o tipo de papéis (e.g. ser mãe, amiga, melhor amiga, etc.).E surge, então, a questão pela qual vamos refletir … mas será que posso ser a melhor amiga do meu filho?
O que verificamos é que até certa altura vemos as amizades dos nossos filhos como algo importante e fundamental, porém quando chega a adolescência os amigos são, muitas vezes, interpretados como uma ameaça, por todas as razões mencionadas anteriormente. Estas amizades não têm de constituir uma ameaça, pois são estas relações que permitem a distinção entre limites pessoais, sociais, o desenvolvimento do autoconceito, a ligação emocional e sobretudo dão suporte securizante quando a família não pode e/ou não está presente.

É natural que o seu filho nesta fase da vida sinta que são os amigos que o compreendem melhor, pois estes estão também a passar pelos desafios característicos da adolescência. Para além disto, alguns estudos referem que a idade torna-se de facto um agente de ligação poderoso na adolescência e que os adolescentes acreditam que a maioria dos seus amigos partilham os mesmos valores e que as pessoas mais velhas não.

Humm … Não se lembra de pensar o mesmo em relação aos seus pais quando era mais novo? Para nós pais é difícil de aceitar porque pensamos que a nossa experiência pode ser um bom veículo de informação, para que os nossos filhos não cometam os mesmos erros que nós cometemos ou que vimos tantos amigos cometer. Mas não teve que passar por eles para perceber que eram erros e sentir que tinha de mudar?

Então é importante permitirmos a abertura para o exterior (e.g. amizades) e darmos aos nossos filhos algo que muitas amizades na adolescência não têm: estabilidade, firmeza e regras. Somos aqueles que damos as asas para voarem, mas são eles que determinam o seu caminho, e quando por alguma razão já não conseguirem voar ou não saberem por onde seguir é ao porto seguro que voltarão. E, nesse altura, não é tão bom ser mãe ou pai? E, nessa altura, não é tão bom sabermos que os nossos filhos, para além de nós, conseguiram construir outras relações que os fortalecem e lhes dão outras soluções para continuar a voar?

Aquilo que nós damos aos nossos filhos é tão importante e fundamental como aquilo que os amigos lhes oferecem! E nem os amigos conseguem dar o que os pais dão, tal como nós também não conseguimos disponibilizar e viver aquilo que em conjunto, os adolescentes vivem! Cada um há sua maneira tem um papel! Para quê misturá-los?