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Inês Custódio

Inês Custódio

Alguém poderá dizer que nunca se preocupou com nada?

Com o exame do dia seguinte? Com a viagem do filho? Com o primeiro dia de trabalho? Com o pagamento da conta da luz? Com a dor de dentes? Ou com o trabalho que falta terminar? …

A verdade é que a maioria de nós se preocupa com alguma(s) coisa(s) ao longo do dia. É normal, faz parte de nós e a verdade é que sempre o faremos, pois a capacidade de nos preocuparmos é uma resposta natural e tão antiga quanto a espécie humana. Preocupamo-nos porque isto nos permite antecipar e prevenir problemas ou dificuldades no futuro.

Já pensou o que poderia acontecer se não se preocupasse com muitas das questões anteriormente descritas? Provavelmente não estudaríamos, não cuidávamos da segurança dos nossos filhos, não nos preparávamos devidamente para o primeiro dia de trabalho, esqueceríamos o prazo de pagamento da luz, iriamos negligenciar as nossas dores físicas, não iriamos cumprir as nossas tarefas…Em suma, o nosso bem-estar e daqueles de quem mais gostamos poderiam estar comprometidos, pois sem esta preocupação não faríamos nada no sentido de tentar prevenir alguns dos riscos possíveis.

Assim, a preocupação tem três funções muito importantes:(1) Alarma-nos – a nossa atenção fica focada numa possível ameaça, que de outra forma seria ignorada; (2) Motiva-nos – à nossa consciência são trazidas imagens e pensamentos sobre possíveis perigos/riscos no futuro que nos levam a sentir ansiedade e uma necessidade de fazer algo para os evitar; (3) Prepara-nos – ao anteciparmos a situação futura são também ativadas as nossas capacidades de resolução de problemas e tornamo-nos muito mais criativos para os solucionar.

Importante?

Sim, definitivamente esta é uma capacidade muito importante para nós e para nos protegermos e protegermos aqueles de quem mais gostamos. Porém, muitas vezes esta preocupação torna-se excessiva, difícil de controlar e cada vez mais intensa, assumindo características que acabam por dificultar mais a nossa vida do que facilitá-la.

Estamos,assim, perante uma preocupação excessiva quando:

Ficamos cada vez mais e mais ansiosos cada vez que antecipamos alguma dificuldade.

Começamos a ser cada vez mais pessimistas sobre o desfecho de várias situações – isto é, esperamos sempre o pior.

A nossa preocupação começa a estender-se a mais coisas e não conseguimos evitar preocupar-nos com que consideramos não serem factor de preocupação.

Começamos a ficar preocupados com o nosso próprio estado de ansiedade e preocupação constantes.

Começamos a sentir que não conseguimos relaxar ou parar, pois há sempre alguma preocupação a surgir.

Começamos a evitar estar em certas situações para não nos preocuparmos com elas.

E começa a ser difícil encontrarmos soluções para os nossos problemas, é quase como se bloqueássemos.

Tendo em conta estas características, é habitual a preocupação excessiva ter um forte impacto na vida de qualquer pessoa. O mais provável é que esta se sinta constantemente ansiosa e cansada, sendo difícil permitir-se a parar um pouco e a relaxar. É como se a vida girasse em torno de uma busca constante pelo que pode ser perigoso, como se nunca pudesse “baixar a guarda”, pois se o fizer há a sensação de que algo muito mau poderá acontecer.

A verdade é que as coisas más acontecem! Podemos tentar prevenir algumas, porém, tentar controlar o incontrolável irá custar-nos energia, tempo, bem-estar e qualidade de vida e mesmo assim alguns dissabores irão continuar a surgir.

Aceitar esta realidade é o primeiro passo para voltar a viver a sua vida, sem que sejam as preocupações a dizer-lhe como fazê-lo. Foque a sua atenção nos momentos bons e não em tentar descobrir o que pode acontecer de mal. Liberte-se e verá que a vida tem outro sabor!

Clark, D.; Beck, A. (2010) Cognitivetherapyofanxietydisorders. ScienceandPractice. London: Guilford Press

McKay, M.; Davis, M.; Fanning, P. (2011) Thoughts& Feelings. Oakland: New HarbingerPublications