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Autor: Sofia Alegria

Estava perto da meia-noite e o telemóvel tocou. Espreitei o visor. Era número privado. “Estranho”, pensei. “Logo pelo segundo dia consecutivo”. A curiosidade apoderou-se da sensatez e atendi. Não se ouvia vivalma. Insisti: “Quem fala?”. A resposta surgiu finalmente passados alguns segundos. Do outro lado havia uma respiração pausada e gradualmente mais pesada. Não queria acreditar. Assim que percebi desliguei logo a chamada!

Este e outro tipo de perversão sexual parecem ser cada vez mais frequentes nos dias de hoje. Há, sobretudo, uma sobrevalorização do instinto sexual e uma artificialidade inerente ao mesmo. Esta artificialidade, por vezes também denominada por fantasias sexuais, funciona muitas vezes como um escape; até mesmo à rotina. Fantasiar é, por si só, uma forma natural de atingir o prazer. Em sua boa conta, peso e medida, ajuda a desinibir, a aumentar o prazer e a induzir excitação.

Mas e quando essas experiências adquirem um estatuto de substituição da experiência real? Quando fantasia se confunde com perturbação sexual?

Como o próprio nome indica “perversão” tem um carácter de marginalização. No caso, significa qualquer comportamento sexual que seja contrário às normas sociais. Percebe-se, assim, que por detrás de uma estrutura perversa esteja a imposição e a distorção, em que a relação sexual é entendida como extremamente violenta e destrutiva. Actualmente, utiliza-se o termo parafilia para denominar aquilo que é uma perturbação do foro sexual. As parafilias são actividades ou situações incomuns, podendo envolver objectos, que causam algum tipo de prejuízo significativo físico, social e/ou até profissional para a pessoa.

Apesar do carácter marcadamente libidinal observa-se, neste tipo de pessoas, uma consciência mórbida manifesta, nomeadamente ao aperceberem-se do cariz intermitente, fugaz e precipitado das experiências. Estas, que são tidas de uma forma repetitiva e monótona, levam a uma consequente frustração que quase se intercala com o período de satisfação.

De “Eu quero mais”

é fácil passar para

“Eu preciso de mais”.

Há mesmo uma substituição de desejos e o parafílico só consegue atingir prazer exclusivamente com aquilo que é socialmente inaceitável e proibido. De outra forma não há prazer pela actividade sexual.

Existe um sem-número de parafilias, sendo que as principais são:

Pedofilia – Quando há pensamentos eróticos repetidos e fantasias por crianças. No caso de haver actividade sexual, estão envolvidos comportamentos como carícias genitais e sexo oral, sendo a penetração menos comum.

Exibicionismo – Sentir prazer em exibir os genitais, geralmente num local público, a pessoas desconhecidas e/ou desprevenidas. O prazer surge da surpresa causada na pessoa e não propriamente pela tentativa do acto sexual em si.

Sadismo sexual e masoquismo – Em ambas as parafilias existe indução propositada de dor. No primeiro caso o sofrimento, físico ou psicológico (nomeadamente através da humilhação e ridicularização), é provocado no outro e daí decorre o prazer sexual. No segundo, a pessoa tem necessidade de ser submetida a sofrimento, sendo que obtém prazer com a sua própria dor.

Voyeurismo- Sentir prazer em observar, à distância, pessoas nuas ou em pleno acto sexual.

Fetichismo – Utilização de objectos inanimados para excitação e prazer sexual. Objectos, tais como roupa interior feminina, podem ser utilizados pelo próprio ou pela parceira durante o acto sexual.

Frotteurismo – Trata-se de obter prazer através do toque ou fricção do órgão sexual em outra pessoa, sem o seu consentimento. A sua frequência é, portanto, maior em locais com grande concentração de pessoas, nomeadamente em transportes públicos.

Em geral, as parafilias são mais comuns no sexo masculino, sendo a pedofilia aquela que é mais praticada. De transversal em todas as situações acima descritas está a sua periodicidade e exclusividade enquanto fonte de prazer, o seu carácter repetitivo e angustiante para a pessoa. Os mesmos veêm a sua vida condicionada, em que as suas relações amorosas são de pouca dura. Estes acontecimentos vêm protelar uma imaturidade afectiva já existente. Contudo, as pessoas com este tipo de perturbação não vêm a terapia espontaneamente, mas apenas quando os seus comportamentos geram algum tipo de conflito externo a elas como, por exemplo, serem apanhados e denunciados pelo seu número de telemóvel identificado.