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Autor: Sofia Alegria

Todas nós, mulheres, já devemos ter tido aquele momento digno de filme que “não pode ser acaso, é destino”, pensamos. Podemos até questionar as leis da física e da quarta dimensão do ser. Algumas podem até sentir que aquele sapatinho de cristal foi finalmente encontrado! Mas e quando o príncipe encantado contraria o mais conhecido e popular conto de fadas de sempre e transforma-se em sapo? Pois é, não estamos livres de que isto nos aconteça em qualquer idade, sendo que para acontecer basta estarmos envolvidas numa relação amorosa. E também as nossas filhas, sobrinhas, primas e amigas não estão.

A violência no namoro surge, frequentemente, como percursora da violência conjugal, podendo estar ligada a três subtipos de violência, que podem surgir concomitantemente: violência física, abuso emocional ou psicológico e abuso sexual, cometido pelo parceiro ou ex-parceiro. No que diz respeito ao abuso físico, este ocorre com recurso à força e à dor física, comportamentos como empurrar, bater, esmurrar, sufocar e até mesmo ameaçar com uma arma. O abuso psicológico caracteriza-se por recorrer a acções de ordem verbal e não-verbal, tais como insultos e ameaças verbais a si próprio, à vítima ou a outros, humilhação da pessoa abusada, limitar ou controlar o exercício de determinadas tarefas e pessoas (ciúme) e a formas subtis de controlo e manipulação como, por exemplo, ameaças contínuas de separação, abandono ou traição. Quando estes dois tipos de violência estão presentes torna-se mais “fácil” e, portanto, mais recorrente o abuso sexual. Este pode ter três formas: manipular a vítima a condutas sexuais não desejadas, assédio sexual e até mesmo violação. Neste tipo de violência o agressor utiliza, como recursos, a coerção, intimidação, humilhação e subordinação.

Qualquer que seja o tipo de violência estão implícitas relações de força e abuso de poder. Através da dor física e psicológica, o agressor pretende ter controlo e domínio sobre a outra pessoa, numa tentativa de se sentir omnipotente.

Parece ser na adolescência que estes tipos de violência são mais propícios de se iniciarem, por ser uma fase de maior carência, instabilidade e auto-descoberta. Nesta fase, as relações são ainda poucos experientes, embora dotadas de um desejo de independência e emancipação, o que faz com que, por um lado, haja poucos recursos de resposta à violência sofrida e, por outro, que seja difícil o reconhecimento do papel de vítima. Assim, a probabilidade de desenvolver comportamentos de violência na relação de namoro é maior.

Outra causa para o desenvolvimento deste tipo de comportamentos parecem ser os factores psicológicos, nomeadamente, a baixa auto-estima, problemas de comunicação com a família e com os pares, uma maior pré-disposição para manifestações de raiva e, consequentemente, estabelecimento de relações conflituosas.

Estes comportamentos surgem, muitas vezes, em vítimas em situações de isolamento social, com falta de competências de resolução de problemas e situações de práticas educativas desadequadas e, para as quais, é fundamental uma boa estimulação familiar.

A exposição a estas vivências de abuso, quer a curto como a longo prazo, são marcantes na vida de uma adolescente e podem mesmo ditar o padrão de relações futuras. Os vários danos apontados podem provocar comportamentos sexuais de risco, isolamento, disfunções do comportamento alimentar, stress pós-traumático, reacções psicossomáticas, ansiedade, depressão e ideacção suicida, insucesso escolar e, no futuro, baixo rendimento profissional. Estar exposta a estes comportamentos tem um efeito de auto-desvalorização, descrença e sentimentos de impotência, fazendo com que a adolescente não se veja forte e capaz, sendo um ciclo vicioso – que deve ser parado.