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Ana Beirão

Ana Beirão

A exploração da vida através da arte pode ser um recurso valioso. Já alguma vez se questionou se a arte lhe proporciona novas formas de estar ou de pensar? Assim como a psicoterapia nos pode ajudar a identificar padrões, a ter um novo olhar sobre estes, a descobrir recursos ou a identificá-los, a perceber as necessidades de cada um, a arte permite ver as suas questões de um novo ponto de vista. Pode até torna-se mais claro aquilo que inicialmente não compreendia. A cultura, a arte, seja ela abstracta ou não, permite, por vezes, um efeito de espelho, onde surgem diferentes perspectivas, uma exploração da forma de sentir, um olhar de fora para dentro. Pressupõe a criatividade para olhar a vida real de diversas formas.

O visionamento de um filme, de uma peça de teatro, quando se lê um livro, observar uma escultura ou pintura, são momentos que acabam por mexer com a pessoa. Por vezes não sabe ao certo o que lhe está a acontecer, outras vezes consegue claramente identificar o que se passa com o próprio. Porque se aquilo que observa ou se lê, ressoa em si de alguma forma, então é porque o corpo e a mente reconhece algo familiar. A partir desse momento pode começar a perguntar a si próprio o que acha que está a acontecer, a dialogar internamente sobre o sentido das coisas, porque mesmo que não se saiba exactamente aquilo que está acontecer, sabe que houve uma identificação com o que acabou de experienciar. Porque a arte imita muitas vezes a vida ou tenta através desta encontrar uma forma de a explorar, porque a arte mexe, agita, faz com que a pessoa (público) se questione do seu significado, faz pensar, provoca, questiona.

Ao pensar sobre a arte, pesquisei sobre como esta pode ajudar a criança e posteriormente o adulto a desenvolver as diferentes competências que o podem ajudar na sua própria vida. Eis como pode contribuir:

Criatividade: o conseguir pensar individualmente ajuda a perspectivar as situações de diferentes maneiras. Por exemplo, as crianças podem conseguir fazer a representação de uma memória através da pintura, da construção de um ritmo musical, o que permite com que mais tarde encontrem novas formas de olhar futuros problemas.

Confiança: em competências desenvolvidas no teatro, ajuda a perceber as zonas de conforto, a permitir errar para depois corrigir. Pode assim mais tarde ajudar o adulto a fazer apresentações em frente a outras pessoas, porque entende as suas dificuldades e a forma como as pode enfrentar.

Resolução de problemas: na arte as crianças são constantemente desafiadas a descobrirem soluções para os problemas, como de que maneira o meu personagem nesta peça de teatro reagiria? De que forma posso demonstrar uma emoção através da dança? Como transformo este pedaço de madeira numa escultura? O que acaba por ser uma prática importante na forma de raciocinar e compreender o problema e mais tarde a descobrir as soluções necessárias no local de trabalho.

Perseverança: uma competência fundamental, que permite com que não se desista de uma nova aprendizagem na primeira vez que se falha. Porque como tudo, o esforço e a prática são fundamentais para se atingir um dado fim. Se quiser aprender a tocar um instrumento, sei que não o vou conseguir à primeira, mas que se permitir continuar acabarei por o conseguir.

Foco: a habilidade de se concentrar e focar, o equilíbrio entre o ouvir e o contribuir numa dada situação.

Comunicação não verbal: conhecer o corpo mais aprofundadamente através do teatro e dança. O que permite com que perceba que existem diferentes formas de comunicar diferentes emoções.

Crítica constructiva: onde a criança aprende que a análise que o professor faz, não é ofensiva nem pessoal mas sim útil para um melhoramento daquilo que se está a realizar. Aprender a olhar a crítica desta perspectiva contribui mais tarde para o sucesso de uma dada acção.

Colaboração: as artes em geral são colaborativas, as crianças trabalham em conjunto, partilham responsabilidade e se comprometem a atingir um determinado objectivo. Aprendem a ver a sua contribuição num objecto colectivo, ganham assim confiança e aprendem que as suas prestações são valiosas mesmo quando não se está no centro das atenções.

Dedicação: associar o resultado do produto final a um sentimento de realização. Aprendem a desenvolver hábitos de trabalho saudáveis, respeitando o tempo, a contribuição dos outros, compreendendo o esforço que é preciso para se concluir algo.

Responsabilidade: quando as crianças constroem algo em conjunto, acabam por ficar com a ideia de que as suas acções afectam as outras pessoas. A contribuição da arte ajuda-as a compreenderem e admitir erros e responsabilidades. Aprender que os erros acontecem e que podemos aprender com eles, ajuda a seguirmos em frente.