Tempo de Leitura: 2 min

Autor: Vanessa Damásio

Proponho ao leitor que faça uma experiência: irei enumerar uma lista de 15 palavras que terá que recordar totalmente ou em parte para depois realizarmos uma pequena prova. Estas são as palavras: “caramelo, ácido, açúcar, amargo, bom, sabor, dente, agradável, mel, refresco, chocolate, duro, bolo, comer, torta” Recorda-se das palavras? É possível!

Agora para tornar o exercício mais acessível pergunto apenas 1 palavra para que possa responder se esta entrava na lista que provavelmente memorizou: A palavra é “sabor”. Esta está na lista?

E agora “doce”, é uma das palavras da lista?

Se respondeu que “sabor” estava na lista inicial acertou! Mas se respondeu que “doce” também estava, desta vez errou…

“Doce” é um vocábulo muito importante, porque a maioria dos inquiridos, em experiências anteriormente realizadas por Schacter, tende a pensar que ela tinha sido expressamente mencionada. Trata-se de um erro comum que se caracteriza por uma atribuição errónea, influenciada pela memória das palavras relacionados em termos de conteúdo. Efetivamente quase todas as palavras da lista de 15 estão relacionados com “doce”, como “sabor”, ou “caramelo”, ou “chocolate”, “torta”, “bolo”…

Esta tendência está assim relacionada com o facto de a nossa memória se focar e reter mais facilmente pormenores interligados entre si em termos de significados e conteúdos e que têm associadas representações cognitivas e emocionais de referência, podendo até levar a uma distorção da própria recordação, no momento presente.

Podemos assim recordar aquilo que é a essência do que acontece, mas embora a recordação seja precisa, muitas vezes é errónea. As recordações são influenciadas e distorcidas pelos nossos conhecimentos, sentimentos e crenças atuais. Aquilo em que acreditamos e o que sentimos no presente afecta as nossas memórias acerca daquilo que julgamos que sucedeu no passado.

Provavelmente até muitas condutas cruéis, dogmáticas e terroristas estão relacionadas com este processo. Se as nossas crenças nos podem levar a distorcer o passado de forma a adequa-lo àquilo que acreditamos, então estas mesmas crenças acabam por ser reforçadas tornando-se cada vez mais fortes, chegando inclusivamente ao ponto de impedir o discernimento entre o bem e o mal, podendo levar a comportamentos horrendos.

O papel das emoções na memória também tem sido alvo de múltiplos estudos. Foi possível comprovar que as ações sustentadas por emoções são as últimas a encher o poço do esquecimento.

Por outro lado, estas mesmas memórias e emoções vão criando simultaneamente possibilidades de imaginar um novo futuro, pois sabemos recentemente que as zonas cerebrais que se ativam na recordação e na imaginação são as mesmas!

Se as convicções e crenças herdadas podem esmagar o poder de compreensão que se poderá ter das coisas, também essas mesmas convicções influenciam a interpretação do passado, e em conjunto com a imaginação e a criatividade, podem até inventar ou reconstruir um futuro!