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Autor: Filipa Jardim Silva

A sociedade após a utilização das redes sociais e da internet vive realmente numa aldeia global. A informação é mais acessível e partilhada de forma mais igualitária por todos, podemos viajar sem sair de uma cadeira, podemos conhecer pessoais de outros países sem deixar o computador. Isso substitui as viagens reais e os abraços a três dimensões? Claro que não, mas introduz uma componente importante que faz parte da evolução humana.

As regras de comunicação estão a mudar, começam-se a clarificar regras de socialização nas redes sociais, a lei ajusta-se aos crimes cibernéticos. Tudo isto aponta para como a internet faz parte da nossa realidade e ao invés de fazermos dela bode expiatório podemos aproveitá-la para o nosso desenvolvimento contínuo.

 

[h2]Geração ligada em rede: prós e contras[/h2]

Vivemos numa geração ligada em rede, em que somos convidados a partilhar a cada momento os nossos estados de espírito, atividades, companhia escolhida, e em simultâneo acedemos a essas partilhas de outros, mais ou menos próximos, à distância de um click. Naturalmente isso provoca alterações na nossa maneira de nos vermos e de nos relacionarmos com os outros. Todavia, apesar dos muitos riscos inerentes a um uso excessivo das redes sociais, elas não serão responsáveis de forma absoluta por uma sociedade vista, por muitos, como mais individualista. Existirão aspetos mais positivos e menos positivos na sua utilização.

 

Naturalmente, as redes sociais podem contribuir para uma noção um pouco distorcida de intimidade pela partilha fácil e contacto imediato com muitos outros; leva-nos a deixar de praticar skills sociais como a empatia, contacto visual e leitura emocional do outro. É tentador investir mais na imagem que projetamos virtualmente de nós do que na nossa verdadeira imagem, como é também mais fácil investir em relações virtuais, acessíveis e práticas, e tirar daí uma gratificação mais rápida e imediata do que as relações reais, que implicam mais movimento para ir ao encontro do outro e mais desafios.

Virtualmente existem menos imperfeições, partilhamos o que queremos, tendencialmente o que mais nos favorece. Graças também às redes sociais o lema “és aquilo que fazes” está a substituir o princípio “és aquilo que possuis”, o que aumenta a seleção da partilha e pode enviesar as escolhas que fazemos: vamos ao ginásio Y porque realmente gostamos ou porque ir ao ginásio irá dar uma determinada imagem de mim?

 

Na definição de identidade, as redes sociais podem realmente ter um impacto negativo. Além de podermos criar uma imagem fabricada de nós mesmos podemos acabar por ficar muito auto-centrados no nosso pequeno universo, com partilhas de pensamentos, banalidades, atividades, companhias ao segundo. E quando estamos a vivenciar uma determinada experiência se nos distanciamos para a partilhar em tempo real online uma parte de nós deixa de estar presente na experiência. Vivemos numa era em que a imagem é sem dúvida muito importante, a perfeição e juventude eternas são-nos vendidas a cada instante. Mas a nossa imagem não nos define de forma absoluta. As redes sociais contribuem certamente, por um lado, para um maior estado de solidão em que interagimos mais com um computador do que com pessoas reais.

 

Por outro lado, são essas mesmas redes sociais que têm permitido maiores ligações entre pessoas com interesses em comum, por exemplo, e têm encurtado distâncias físicas, que muitas vezes contribuíam para um afastamento e isolamento geográfico.

A internet altera a nossa percepção de tempo, distância e de proximidade. Sem dúvida, tem sido um veículo muito útil para encontrar pessoas perdidas no tempo, como também para nos juntarmos de forma solidária em torno de causas que de outra forma não saberíamos em tempo tão útil. Os reencontros nas redes sociais despoletam igualmente emoções fortes e se acompanhados de investimento na relação será sempre possível a transposição para uma proximidade na vida real, sendo assim promotores de relacionamentos fortes e verdadeiros.

Assim, as redes sociais permitem-nos viver de uma forma mais plena na aldeia global. Acedemos a informação diversificada de forma rápida, selecionamos os conteúdos que mais nos interessam, chegamos a pessoas e serviços mais rapidamente, alimentamos relações pessoais à distância.

As redes sociais se utilizadas de forma saudável seguindo os mesmos princípios de equilíbrio da vida real podem constituir bons recursos, tanto a nível pessoal, social e profissional. É importante olharmos para nós de uma forma global e perguntarmos a nós mesmos “o que me define?”. Se a esta pergunta a resposta não incluir só traços físicos compreendemos que somos muito mais do que aquilo que parecemos. Se refletirmos sobre as experiências reais que temos e as relações a três dimensões que alimentamos em relação às experiencias e contactos virtuais que desenvolvemos e o peso recair para o mundo real constamos que provavelmente estamos a fazer uma utilização funcional da internet e não estamos a criar uma dependência.