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Autor: Francisco Gonçalves Ferreira

Já deu por si numa viagem de carro com o seu mais-que-tudo onde era suposto haver entusiasmo e espírito de descoberta e, de repente, numa hesitação, uma entrada num caminho errado, e rebenta uma discussão que condena toda a aventura?

Muitas vezes o que leva os casais para uma arena de acusações e críticas destrutivas não é o comportamento num dado momento mas sim as expectativas que cada um tem relativamente à capacidade do próprio ou do outro de conduzir a relação. Espera-se não falhar, sentir-se protegido ou proteger, sentir-se responsável e justo ou sentir que se pode confiar ao outro a capacidade de decidir e fazer escolhas que são boas para nós.

Atribuir papéis específicos a cada elemento do casal permite gerir as necessidades, mas também reduz o gosto pela surpresa ou pelo erro, que passam a ser encarados como uma falha na personalidade do outro, que deixou de compreender a nossa.

A solução é gozar/brincar com isso, desafiando a seriedade da relação através da criação de momentos em que o casal decida como objectivo algo que, até agora, talvez por medo do imprevisto ou do desconhecido, era evitado: errar!

Para retomar a capacidade e o gozo de errar em conjunto, pode tentar o seguinte:

– Pegue outra vez no carro.

– Combine com o seu parceiro uma viagem, pode ser pequena, mas destinem-lhe pelo menos uma hora.

– Ponto de partida: onde o carro está estacionado.

– Ponto de chegada: não está definido! O único objectivo é chegar ao primeiro cruzamento tendo em mente que ninguém sabe se vão virar para a esquerda, para a direita, ir em frente ou voltar para trás.

– No cruzamento, antes de decidir, falem das vossas vontades e sentimentos, tentando perceber:

       –  O que é, para cada um, “poder errar”?

       –  O que é, para cada um, tomar uma decisão em conjunto?

       –  Qual a diferença entre o que sentem antes ou depois de tomar a decisão?

       –   O que faz com que possa ser difícil aceitar a decisão do outro?

       –  O que faz com que possa ser difícil lidar com a hesitação do outro?

       –  Que expectativas têm do casal e um do outro naquele momento?

       –  Quando sentirem que chegaram a uma decisão, avancem até ao próximo cruzamento e repitam os passos.

– Terminem a viagem quando a vontade do próximo cruzamento for superior à vontade de tomar a decisão certa.

Nota: não vale infringir as regras de trânsito!