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Se a resiliência é um conceito psicológico, definido como a capacidade de o indivíduo lidar com adversidades, o desemprego é descrito como falta de emprego mas a verdade é que procurar emprego é também um trabalho e exige muito empenho. Para que resulte, é necessário a criação de rotinas e persistência em busca dos objetivos desenhados. Numa fase tão geradora de frustração e desesperança torna-se fundamental cuidar do sono, manter uma alimentação saudável, assegurar a prática de exercício físico e, claro, evitar a todo o custo o isolamento.

 

Será então o desemprego capaz, por si só, de desencadear um quadro psicopatológico, pondo em causa a nossa saúde mental?

A ideia da existência de uma psicopatologia do desemprego já foi sedimentada por diversos autores que admitem que, sobretudo o desemprego prolongado, pode criar uma situação propícia à emergência de distúrbios mentais característicos. Neste caso, é comum a desestruturação de laços sociais e afetivos, que podem ainda causar restrição de direitos, insegurança socioeconómica, redução da autoestima, sentimento de solidão e fracasso, levando, com frequência, ao aparecimento de distúrbios psicológicos e à dependência de drogas, como o álcool.

Outros autores, também referem que uma grande parte dos trabalhadores têm no trabalho o único elo social, fora do convívio familiar. Estes enfatizam que o trabalho, ao produzir no homem um sentido de inclusão social, revela quanto a sociedade dá importância àquele que produz, destacando o indivíduo que tem salário fixo e estabilidade. Assim, o fato de não estar a trabalhar, leva o homem a enfrentar um processo de desvalorização social. O trabalho passa, dessa forma, a ser uma maneira de estar incluído na sociedade.

Alguns investigadores afirmam que o desemprego em idade jovem atrasa o desenvolvimento psicossocial saudável, pois impede o desenvolvimento da identidade ocupacional, já que um indivíduo sem uma relação laboral estável, não consegue obter uma carreira e, indiretamente tem dificuldade na criação de uma família, pois a condição de segurança económica necessária está ausente, sem um emprego.

Relativamente aos fatores sociais e ao fator ocupacional, pertencer a uma organização laboral, ou seja, possuir um emprego, um contrato de trabalho sem termo, estável, é, de facto, um fator de inserção social. Num momento em que a sociedade moderna vive uma série de dificuldades no que respeita à construção de relações estáveis e desenvolvimento de raízes culturais, a organização laboral é o ponto de encontro do indivíduo em sociedade, e começa a ser o local mais sólido para a criação de novas pertenças.

A partir de uma certa altura, as pessoas pensaram que ao estudar mais teriam garantia de emprego mas, na verdade, a construção da carreira dos jovens licenciados é hoje muito dificultada, uma vez que, quem procura emprego, atualmente, encontra um mercado instável, com aceleradas mudanças tecnológicas, reestruturações empresariais e precariedade, marcado sobretudo pela pressão quase insuportável dos elevados e persistentes índices de desemprego, que afetam sobretudo os jovens à saída do sistema educativo.

 

Torna-se então essencial distinguir o que fazemos do nosso sentido de vida. Neste podemos diferenciar duas categorias de valores que podem clarificar a descoberta de sentidos para a vida: valores criadores e valores de atitude.

Os valores criadores estão ligados ao trabalho, à ação e à produção de algo, proporcionando ao indivíduo a possibilidade de sentir-se útil e ser preenchido por uma atividade que lhe traga prazer e satisfação, para si próprio e para os seus. Muitas vezes, as pessoas estão fora do mercado de trabalho e por isso sentem-se inúteis, perdem o sentido da vida. Há, por isso, que procurar razões e sentido para que a vida tenha uma continuidade. Para ter continuidade, é necessário ter motivos que nos permitam usufruir o presente com prazer. E aqui a prática de Mindfulness assume-se como uma das estratégias que mais ajudará neste sentido, ao potenciar um treino de foco com intenção no momento presente de uma forma não avaliativa.

Sobre a segunda categoria, os valores de atitudes, referem-se à postura que temos perante a vida: ativa ou passiva. Não há dúvidas de que, de forma passiva, a vida possa perder o sentido e, no caso do desemprego, este possa trazer uma falta de sentido à mesma. Ao contrário, aquele que possui uma postura ativa frente à vida encontrará um sentido para continuar a viver e lutar.

 

Para que consigamos passar por este processo de desemprego assegurando bons níveis de saúde psicológica, tanto a rede social em que estamos inseridos como um estilo de vida saudável (exercício físico, bom sono e alimentação equilibrada), um contínuo autocuidado e um investimento individual na procura de um emprego, são fundamentais, a curto e a longo prazo.

O estilo de vida, a capacidade de resiliência e o sentido que damos à vida, são fatores que podem influenciar o processo de procura de emprego, e também são suficientemente relevantes para aplicar uma mudança na vida do sujeito e dar resposta a um problema que hoje, em Portugal, é relevante.

 

Ana Luísa Rodrigues Leal,

Estagiária de Psicologia na Oficina de Psicologia