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É uma dor de cabeça muito forte. Parece que a cabeça está a latejar. Qualquer movimento que faça parece que vai provocar estilhaços na minha cabeça. Não consigo ver a luz, nem ouvir o barulho. Sinto vómitos. Vejo as coisas desfocadas e às vezes até tenho a sensação que vejo pontos de luz brilhantes. Só me apetece deitar, num quarto escuro e silencioso. Não consigo fazer nada.

Reconhece este discurso? Provavelmente já terá sido seu. Provavelmente já o ouviu vindo de alguém que conhece. É o discurso “típico” de uma pessoa que sofre de enxaquecas.

A prevalência, bem como o impacto social, familiar e laboral da enxaqueca, elevam esta condição clínica a assunto de saúde pública, merecendo a nossa atenção.

Do ponto de vista da origem da enxaqueca, o stress, os problemas do sono e o cansaço, são as causas mais apontadas. Como se a dureza dos sintomas não fosse suficiente, uma elevada percentagem de pacientes relata que o próprio episódio de enxaqueca é gerador de ansiedade.

EnxaquecasAs terapêuticas farmacológicas são globalmente bem aceites no tratamento das enxaquecas. No entanto, este tipo de tratamento ou não é eficaz, ou não é tolerado, por algumas pessoas. Impõem-se alternativas. Para além das situações em que um indivíduo não reage bem aos medicamentos, outras opções serão bem-vindas, por exemplo, quando o mesmo prefere tratamentos que não impliquem tomar medicação, quando existe ou se planeia uma gravidez, quando existe abuso na medicação para a dor ou baixa tolerância à medicação.

Pois bem, a Terapia Integrada EMDR surge como uma alternativa viável no tratamento das enxaquecas. Conheça agora as características deste tipo de tratamento.

O EMDR, dirigido às enxaquecas, contempla duas fases. A primeira fase é desenhada para o alívio dos sintomas agudos da dor. A segunda fase é delineada para reduzir a frequência, a intensidade e a duração de episódios futuros. A primeira fase do tratamento combina a respiração diafragmática, a compressão craniana e os procedimentos habituais do EMDR, enquanto na segunda fase se recorre essencialmente à terapia EMDR.

Provavelmente já ouviu falar da “respiração pela barriga”. É a respiração diafragmática. Ela envolve respirações lentas e profundas com origem no diafragma. Este método é usado para induzir relaxamento em estados de elevada activação emocional e física, como os verificados em estados de ansiedade acrescida, seja ela generalizada ou pânico, mas também em episódios de enxaqueca.

A compressão craniana é usada para ajudar a relaxar certos pontos corporais que podem estar tensos e que podem funcionar como “gatilhos” para o início da dor. Um ponto corporal que funciona como “gatilho” é uma área hipersensível associada a tensão músculo-esquelética. Entre os pontos mais mencionados pelos indivíduos encontram-se os músculos temporais, os trapézios superiores e o esternocleidomastoideo, simplificando, a zona das “fontes” na cabeça, a zona do pescoço e dos ombros.

O EMDR encara a dor crónica, incluindo a enxaqueca, como envolvendo uma componente física perturbadora, em combinação com uma resposta emocional à dor, armazenada no cérebro. O EMDR é guiado por um modelo de processamento de informação adaptativo, que considera que as memórias stressantes e traumáticas armazenadas de forma disfuncional podem originar pensamentos, emoções, comportamentos e sensações “desadaptativas”. Assim, no caso das enxaquecas, o tratamento através do EMDR incorpora o processamento de memórias associadas à dor, bem como das emoções e das sensações corporais perturbadoras provocadas pela dor.

Curiosamente, é frequente verificar-se que cada uma das metodologias, utilizada de forma independente, possui já algum efeito na redução da dor de cabeça. Contudo, supõe-se que é a sinergia entre os três componentes (respiração diafragmática, compressão craniana e EMDR) que conduz à melhoria dos sintomas da enxaqueca.

A Terapia Integrada do EMDR constitui uma alternativa não medicamentosa, segura e eficaz no tratamento da enxaqueca.

 

Com base em: Marcus, S. (2008). An abortive treatment for migraine headaches. Journal of EMDR Practice and Research, 2 (1), 15-25.