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Uma nova coreografiaNa primeira parte deste tema quisemos explicitar um primeiro momento de trabalho em terapia de casal focada nas emoções, em que se alcançam três resultados importantes: identificar e compreender a coreografia interactiva saturada que o casal está repetidamente a ensaiar, identificar e salientar a posição que cada um ocupa na relação com o outro nessa coreografia, e identificar a melodia emocional que o casal está a seguir, ou seja, as emoções que alimentam as respostas interactivas.

Neste texto pretendemos tornar mais claro o segundo momento de trabalho na terapia de casal focada nas emoções, que consiste, de forma metafórica, em encontrar outra melodia emocional que o casal possa seguir, para criar então uma nova coreografia, mais vibrante, fluída e satisfatória.

Assim, neste segundo momento, em terapia de casal há um mergulho emocional mais profundo que permite aceder às necessidades de vinculação, como necessidades de segurança relacional ou de valorização. O que acontece de surpreendente é que quando cada um dos elementos do casal mergulha nas suas necessidades (ex.: protecção) – possível quando se acede às emoções subjacentes às posições de cada um (ex.: medo de ficar sozinho) –, começam a surgir ensaios de novos esboços de comportamentos (ex.: em vez de a pessoa se afastar, começa a aproximar-se do outro, permitindo-se expressar o que precisa para se sentir melhor). Neste ponto há uma apropriação dos comportamentos e emoções como realmente pertencendo ao próprio e não como sendo uma acusação do outro (ex.: “ Percebo que estou tão assustado que fujo, e a maior parte do tempo estou escondido atrás de um muro, sendo natural que não consigas encontrar-me” ou “Quando ela começa a dizer que está desapontada, começo a sentir-me pequenino e não aguento e começo a gritar”). Este trabalho permite um reprocessamento das emoções de base, havendo então mudança na relação do próprio com o medo ou vergonha de não ser gostado, o que permite que comecem a surgir esboços de novos movimentos.

Também é muito interessante a interactividade do processo, pois quando um dos elementos do casal experiência as suas inseguranças e necessidades “puxa” o outro a contactar com as suas. É neste momento da terapia que se está realmente a reorganizar o padrão de interacção, a coreografia interactiva, sendo que, por exemplo, o elemento que se retirava começa então a ficar mais acessível e mais assertivo, começando a ter algum controlo na forma como a relação está definida e de como ele se define nela.

Estes movimentos profundos de mudança geram naturalmente receio, pelo que o terapeuta ajuda a suportar e tolerar a ansiedade que surge na nova interacção, e ajuda a que ambos os elementos do casal estejam conectados. Este envolvimento passa a ser uma alternativa coreográfica ao esquema anterior mais negativo.

É neste segundo momento de trabalho em terapia de casal focada nas emoções que acontecem alterações-chave associadas a mudanças positivas, e em que os elementos começam a demonstrar de forma mais espontânea as suas posições na nova coreografia.

Estas mudanças conseguidas em terapia começam a ter um impacto directo na habilidade de o casal solucionar problemas e cooperar nas tarefas do dia-a-dia, já que a natureza e significado dos problemas se alteraram de forma profunda. Assim, as questões pragmáticas deixam de ser arenas emocionais e passam a ser questões realmente simples, pois já não evocam inseguranças de vinculação nem batalhas de poder, pelo que uma questão em torno das finanças é apenas isso. Igualmente, a atmosfera de segurança conseguida entre o casal permite a exploração mais frequente dos problemas, já que conquistou a habilidade de ficar envolvido no processo de discussão sem a necessidade de despender tempo e energia na regulação de emoções difíceis.