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Quem já não teve de fazer algo perante um público, quer tenha sido um teatro numa festa de família, à apresentação de um trabalho num contexto profissional, normalmente e como é habitual, pode haver um nervosismo, e alguma timidez, pois seja como for estamos a expor-nos. A timidez pode assim ir de um efeito transitório, que é facilmente ultrapassado, a um estado persistente que tolda a experiência de cada um de nós, e que se torna consequentemente um aspecto crónico de identidade, uma parte fulcral da personalidade.

A interiorização da timidez impregna-se na vida de uma pessoa, como um filtro por onde todas as experiências têm de passar, e a seduz a descrever e a acreditar em si própria como má, suja, sem esperança, e até, pior que todos. A pessoa tende a esperar o pior de todas as situações, e a ver insultos e mágoa em trocas sociais positivas e benignas à partida.

Em contexto clínico a timidez é desvalorizada por quem procura ajuda e é comummente apresentada como uma queixa secundária. Mas a timidez ou vergonha pode causar diversos sintomas, como quando leva a rituais elaborados com o intuito de afastar as atenções de si próprio, e a impedir experienciar aquilo que a vida tem para nos oferecer.

Será que podemos colocar a hipótese de pacientes traumatizados terem algum grau de timidez? Sim, e inclusive a timidez é muitas vezes a chave para problemas ligados a adições (como uma forma de nos libertarmos), a perturbações de ansiedade, depressão e perturbações da personalidade.

Outro conceito que está intimamente ligado à timidez é a auto-estima. Esta é o oposto da timidez, ela representa o sentido pessoal de valorização, que deriva principalmente de pensamentos e valores internos, e não do reconhecimento dos outros.

Balcom, Call & Pearlman (2000), realizaram um estudo com 13 indivíduos, em que administraram a ISS (Internalized shame scale) antes e depois da terapia EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através do Movimento Ocular), para determinar se esta reduzia significativamente a timidez e aumentava a auto-estima, através da medição da escala. Apesar de existirem limitações significativas no estudo, como a amostra ser limitada e reduzida, ss resultados são suficientemente encorajadores para considerar o EMDR um tratamento promissor e válido na redução da timidez e aumento da auto-estima.

 

Balcom, D., Call, E. & Pearlman, D. (2000). Eye movement desensitization and reprocessing treatment of internalized shame. [Electronic version]. Traumatology, 6 (2), pp 69-83.