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Sónia Anjos

Sónia Anjos

O emprego influencia a forma como nos vemos a nós e como os outros nos veem, dá-nos um sentimento de segurança, de pertença e dá significado à nossa vida.

Quando ficamos desempregados, o que perdemos para além da fonte de rendimento (que por si só já seria uma perda suficiente grande)? Perdemos identidade profissional, auto-estima, auto-confiança, rotina diária, rede de apoio social e não só.

Perder o emprego sempre foi uma experiência vivida com medo, ansiedade, vergonha e zanga. Atualmente juntamos a este ”cocktail de vivências“ um maior sentimento de incerteza, maior preocupação e muita angústia, tornando-nos mais vulneráveis. Estes são sentimentos naturais e transversais a outras perdas que vamos tendo ao longo da vida. Como lidar com esta perda e com sentimentos que aumentam o sofrimento e a forma como nos vimos a nós e nos relacionamos com os outros?

1) Primeiro passo (pequeno grande passo): Aceitar a realidade.

O passado é importante, é a nossa história e podemos voltar a ele para lembrar momentos e para aprender com os erros. Ficar preso ao passado pensando no que poderia ter dito, o que poderia ter feito só faz com carreguemos o peso da culpa. No fundo, temos dificuldade em aceitar que estamos numa situação difícil e vamos vezes sem conta ao passado á procura de uma explicação…como se fosse possível alterar alguma coisa. Aceitar a realidade implica aceitar que o que estamos a sentir é natural perante uma perda. O que sentimos são “sinais” que devemos interpretar de forma construtiva…que nos mobiliza… para a frente e não para trás.

A aceitação passa pela compaixão por si próprio e pela fase que está a viver. É fácil começar a culpar-se e a criticar-se pela situação em que está. Daqui até que a sua auto-estima e confiança em si e nas suas capacidades baixe é um pulinho!

Desafie os pensamentos negativos como “sou um falhado” procurando evidências do contrário na sua vida e vai encontrar uma nova perspetiva. A pergunte que se impõe é “o que posso aprender e retirar desta experiência?” Quanto mais depressa aceitar o momento que está a viver e o que está a sentir, mais depressa passa para a próxima etapa da sua vida.

2) Segundo passo: Recordar… para aprender

É importante lembrar que esta é uma fase da sua vida… mais uma. Lembre os momentos de sucesso no passado e os recursos que utilizou e que lhe foram úteis. Recorde como foi resiliente na forma como lidou com os obstáculos ao longo da nossa vida. Acordar estas memórias dá-lhe confiança para continuar a acreditar que esta é mais uma fase, que tem recursos e que também a vai ultrapassar.

Lembre-se que não é único a viver esta experiência. Certamente conhece pessoas no seu ciclo de amigos, familiares que também já passaram pelo desemprego e como também eles foram capazes de lidar com a situação da melhor forma que encontraram.

3) Terceiro passo: Invista nas relações

Não se isole. O isolamento é um comportamento que resulta de emoções como vergonha, tristeza e rejeição que a curto prazo poderá trazer algum conforto mas que a longo prazo é prejudicial.
No processo de procura de emprego é fundamental o investimento no networking. Diga às pessoas que está desempregado e que está à procura de emprego. Invista num plano de procura de emprego, discuta-o e reavalie-o regularmente.

4) Quarto passo: Cuide de si…

Dar atenção a outras áreas da sua vida (lazer, relações sociais, exercício/saúde física) é fundamental para diminuir a perceção de insegurança e vulnerabilidade e aumentar a sua auto-estima.

Mantenha uma rotina. Sem rotina acaba por desmotivar. Planeie o seu dia tendo em conta o equilíbrio entre as atividades de lazer e que lhe dão prazer e as atividades de obrigação e responsabilidade.

Identifique as melhores estratégias para lidar com a ansiedade e o stress (técnicas de relaxamento, mindfulness, exercício físico).

Estes são alguns dos ingredientes necessários ao processo de transformação. Este é o momento para repensar os seus objetivos de vida e profissionais. Esta é a sua oportunidade, aproveite-a!