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Intuitivamente, parece óbvia a correlação entre a adversidade na infância e o aumento do risco de problemas mentais e emocionais na vida adulta – e várias investigações têm-no provado, nomeadamente o estudo ACE (Adverse Childhood Experiences).

Neste estudo, constatou-se que pessoas que experienciaram acontecimentos traumáticos na infância tendem a sofrer mais de ansiedade, pânico, pouco controlo da raiva, problemas de sono, alcoolismo, abuso de drogas e queixas físicas. Esta investigação demonstrou, também, a associação entre o trauma e a negligência na infância e o desenvolvimento de perturbações de personalidade. Vários estudos, incluindo o mencionado ACE, indicam ainda que quanto maior for o número de stressores traumáticos, maior o risco de doença psiquiátrica.

Aquilo que não era – e continua a não ser – tão intuitivo é a influência profunda que as experiências traumáticas em idades precoces têm no desenvolvimento de determinadas condições médicas, mesmo passado meio século da sua ocorrência. A adversidade nos primeiros anos de vida parece aumentar radicalmente o risco de doença física, incluindo doenças do coração e pulmões, doenças auto-imunes, cancro, diabetes, dor crónica, entre outras.

Os estudos confirmam, repetidamente, que crianças vítimas de mau-trato são muito mais propensas a tornarem-se dependentes de hábitos “auto-tranquilizantes”, ou seja, dependentes do tabaco, da bebida, da comida, do sexo promíscuo e do consumo de drogas. Reconhecerá, certamente, que estes são factores de risco para a maioria das doenças. Na verdade, dependências a longo prazo “apaziguam” apenas temporariamente problemas como a ansiedade, os medos, a depressão, a baixa auto-estima, a solidão e o desespero.

De forma inesperada, percebeu-se que doenças até então consideradas condições biomédicas estruturais, com surgimento na idade adulta, poderão ter tido origem muitas décadas antes, em reacções ao stress despoletadas pelo trauma e abuso. Os “insultos” traumáticos, na infância, aos complexos sistemas neurobiológicos, podem permanecer “silenciosos” até à meia-idade ou velhice, quando as pessoas surgem diante dos seus médicos com obesidade, diabetes ou tensão alta.

As implicações médicas, sociais e políticas do resultado desta investigação despoletam uma dissonância cognitiva no mundo dos cuidados de saúde. Mas as implicações pessoais, no que ao seu próprio bem-estar dizem respeito, serão talvez as mais relevantes. O EMDR surge como uma opção terapêutica real, eficaz e acessível de tratamento em contexto de trauma.

Com base em:

Wylie, M. S. PSYCHOTHERAPY NETWORKER. As the twig is bent. Understanding the health implications of early life trauma. http://www.psychotherapynetworker.org