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Autor: Margarida Marcão

Obrigado(a), uma simples palavra com um poder tão grande. Não admira que seja uma das primeiras palavras que os livros turísticos sugerem que aprendamos. A gratidão injecta energia positiva na sociedade. Quando pronunciamos esta expressão, seja em que língua for, oferecemos cortesia, respeito, reconhecimento, satisfação aos que connosco se cruzam.

Agradecer o que de bom nos acontece na nossa vida e no nosso dia-a-dia trás também uma boa dose de energia positiva para a nossa existência, ajudando-nos a passar mais facilmente pelos momentos difíceis da vida.

A gratidão é uma emoção que só há cerca de uma década tem sido estudada cientificamente. De acordo com os estudos que têm vindo a ser conduzidos, a prática da gratidão pode aumentar em cerca de 25% os níveis de felicidade, ao ajudar a controlar os níveis de bem-estar.Dois psicólogos, Michael McCollough e Robert Emmons, levaram a cabo uma investigação na qual algumas centenas de pessoas foram divididas em três grupos, e todos os participantes tinham que fazer registos em diários. Durante três semanas, os participantes de um dos grupos tinham que registar eventos que haviam ocorrido durante o dia, sem que lhes tenha sido dito especificamente para escreverem sobre coisas boas ou más; o segundo grupo registava experiências negativas; e o terceiro grupo foi instruído para fazer uma lista diária de coisas pelas quais se sentiam agradecidos. Os resultados da investigação indicam que praticar exercícios diários de gratidão resulta em níveis mais elevados de alerta, entusiasmo, determinação, optimismo, e energia. Os participantes do terceiro grupo revelaram ainda ter experienciado menos depressão e stress, estavam mais predispostos a ajudar os outros, praticavam exercício com mais regularidade, e foram mais bem sucedidos na aquisição de objectivos pessoais. Os efeitos mantinham-se seis meses depois.1

Mas como é que agradecer pode provocar tudo isto em nós? A relação entre pensamentos, química cerebral, humor, função endócrina, e funcionamento de outros sistemas fisiológicos no nosso corpo é demasiado complexa para nos debruçarmos sobre ela neste artigo. Contudo, os pensamentos podem realmente despoletar mudanças fisiológicas que afectam a nossa saúde física e psíquica. O que pensamos afecta a forma como nos sentimos (emocionalemente e fisicamente). Portanto, ao aumentar os pensamentos positivos, podemos aumentar o bem-estar.

Podemos treinar e aumentar a nossa experiência e expressão de gratidão através, por exemplo, de uma tarefa muito simples que consiste em escrever um “Diário de Gratidão”. Os diários de gratidão podem assumir várias formas, mas uma maneira de o fazer é escrever todos os dias antes de dormir uma coisa (pelo menos, podem ser várias) pela qual se tenha sentido grato(a) nesse dia. Pode ser um evento que tenha acontecido nesse dia, alguma coisa que tenha sentido, ou alguém na sua vida que tenha tido um impacto positivo em si. Não precisam de ser coisas extraordinárias! Podem ser coisas pequenas: um chocolate delicioso que comeu, um elogio que um amigo lhe fez, um duche quente que o deixou relaxado, etc. Facilmente tomamos estes pequenos pazeres como garantidos, damos-lhes pouco valor. Aprender a agradecer cada pequena coisa que nos é dada altera o foco das coisas que faltam na nossa vida, para a abundância de coisas que já temos presentes. A gratidão torna as pessoas mais felizes e mais resilientes, fortalece as relações entre as pessoas, promove a saúde e reduz o stress.

Como diz Robert Emmons, a gratidão funciona como “um sistema imunitário psicológico que nos torna à prova-de-bala em tempos de crise”. A vida não é um mar de rosas e é díficil sentirmo-nos gratos quando algo mau nos acontece, mas ter uma espécie de conta bancária, uma reserva de coisas boas e a capacidade de nos refocarmos nelas ajuda-nos a superar melhor os momentos maus.

Muito obrigada caro leitor pelo tempo e atenção que dedicou a este artigo.

1 Emmons, R. A., & McCullough, M. E. (2003), «Counting blessings versus burdens: An experimental investigation of gratitude and subjective well-being in daily life», in Journal of Personality and Social Psychology, 84, pp. 377-389.