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Andrea Oliveira

Temos um tabuleiro de xadrez e a mesma situação por/ para resolver.
Pois perguntemos à rainha o que acha dela e ao cavalo ou ao bispo… Do peão à torre…, um a um, lançará uma possibilidade de resposta ou solução, a seu ver, melhor do que a do outro.
E não é que têm todos razão?
Troquem-nos de posição e a abordagem anterior torna-se, ainda naquele instante, obsoleta; alarguem-se os movimentos ao cavalo e outra estratégia se lhe afigura à frente.
– Então, em que é que ficamos? E porque não decide o cavalo, por si mesmo, alargar os seus movimentos?
– Ah! Porque não pode! São as regras, sra.! São as regras!
– Quem definiu as regras? E porquê essas e não outras? E porque não muda-las?
E porque não… não te-las?
Quem programou os movimentos ao cavalo? O que o faz ficar assim para sempre? O que teme ele em mudar se lhe parece melhor?
– Os outros, sra.. Não seria justo para os outros que ficariam sem poder continuar a jogar sem o cavalo!…
– Ah! Claro! Os outros… (sempre os outros!). Então, e os outros mudarem os seus movimentos pelo cavalo? Não poderia ser?
– Ah, mas aí o sr., o sr. não ia ter nem saber como jogar e o sr. é quem manda.
– O cavalo tem de ficar assim porque o sr. é quem manda e ele quer (continuar) jogar. Compreendo… então porque é que não vai o sr. para o tabuleiro também? Assim é que ele seria o verdadeiro jogador!
– Ah, não… Então e se depois ele fosse “deitado fora”? Não, não… isso é que não poderia ser!
– Hum… estou a ver… todos a servir a vontade de um… Que marionetas, esses, os do tabuleiro!
Então, se o sr. fosse “deitado fora“, continuavam os outros a ir a jogo, ora!
– Mas o jogo só existe porque existe o jogador, sra.!
– Hum… o tal observador que cria a realidade… estou a ver…
Então e se cada um fosse, por si mesmo, um jogador? Se cada um ganhasse consciência de si e se se percebesse ali, no tabuleiro? Cada um deles passava a ser um verdadeiro jogador, a assumir a sua própria salvação, a sua própria realização, não? Tendo em conta que cada um deles tem uma realização diferente a cumprir – a que eles sentem querer, não a que o sr. definiu, talvez tudo o resto se resolvesse por si só, porque aquele “problema” para resolver só existe porque eles estão naquele tabuleiro, naquela posição, naquele quadrado específico, condicionados por aqueles medos, limitados por aquelas regras, asfixiados por aquele pequenino nível de consciência de si… ou não é?

– Hum…espere… muitos deles vão dizer que nao dá… que a culpa é de quem os pôs assim e nao muda as regras, que a culpa é do sr..

– Ora bolas! GAME OVER

 

* * *

Não querendo moralizar nem tirar qualquer reflexão ou conclusão da história que acabamos de ler – essa, é importante que pertença a cada um de nós – a verdade é que sinto que a mestria para superarmos os desafios que a vida nos coloca é cada vez maior e por isso eles tornar-se-ao mais simples, não por passarem a ser mais pequenos, mas porque a mestria e a sabedoria nesta ‘arte de viver bem’ se tornam maiores.
Não há vítimas, nem vilões, e muito menos a vida poderá algum dia ser um vilão. Por isso, porque havemos nós de ser vítimas? E se nós somos representações reais da vida, da natureza, como poderemos nós te-la ‘contra’ nós? Se fazemos parte da natureza porque resistimos a ela? Porque resistimos em compreender-nos, compreendendo-a? Porque nos separamos dela quando somos Ela (vida, natureza e tudo o que dela faz parte…)? Como posso passar uma vida inteira, assim, então, tão longe de mim? Ou indo, com o desenvolvimento, ficando cada vez mais longe de mim?
Se da vida tenho resistência, resistência tenho eu em mim.
Sem culpa, sem julgamento, porque sou uma eterna aprendiz, mas tenho eu que fazer algo para parar e observar o que há tanto tempo é dificuldade na minha vida, porque isso só pode querer dizer alguma coisa de mim…
Então eu paro, eu observo, eu leio mais, eu questiono-me mais…. e levarei, provavelmente, a vida inteira a aprender, a aprender-me, e com isso, há ‘matérias’ que se tornam cada vez mais fáceis e, algumas mesmo, totalmente aprendidas e dominadas.

Diria, sra., que há humanos que ainda complicam demais, temem demais, amarram-se a fantasmas desnecessariamente tempo demais, desconcertam-se demais e pedem ajuda de menos… Não era preciso ser assim…
Ser inteligente é ser-se inteligente também na arte de viver; a única que concilia todas as inteligencias: cognitiva/ intelectual, emocional, criativa, relacional, espiritual. Todas juntas fazem-nos seres altamente inteligentes! Coeficientes de uma inteligência existencial que tem o tempo de uma vida para a podermos estimular!
(Resistes continuamente à vida, porquê? Resistes-te… porquê? Ainda hoje, persistes a resistir… Eu só tenho uma dúvida: Porquê?)