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Gustavo Pedrosa

Gustavo Pedrosa

Entre marido e mulher, não se mete a colher? Ainda bem que não é bem assim…

Desde que as alterações jurídicas que envolvem a violência doméstica e familiar se alteraram, que também a visibilidade e denúncia do problema aumentaram. Também a envolvência das pessoas que, infelizmente, lidam com estes casos com frequência se modificou, havendo uma maior preocupação, atenção e cuidado nos casos conhecidos.

A violência doméstica ou familiar não deve ser ignorada em circunstância alguma, seja ela física ou sob qualquer outra forma, envolvendo crianças ou adultos. Acima de tudo, trata-se de uma questão de saúde (física e mental) de outro ser humano. A longo prazo, o resultado do trauma causado por um ambiente familiar violento é bem evidente na prática clínica, onde é possível verificar que as vitimas dessa violência tendem a repetir padrões ou, em muitas situações, a criar crenças disfuncionais, tanto pessoais como familiares.

E quais os resultados a curto prazo desta violência familiar nas crianças?

Um ambiente hostil pode levar as crianças a reproduzirem os modelos relacionais que conhecem (agressivos) com outros familiares ou, na maioria das situações, com os amigos e colegas da escola. Muitas das vezes essa violência e os problemas de desempenho escolar estão “de mãos dadas” e são os primeiros sinais a serem verificados pela rede de apoio social da criança. O choro compulsivo e o isolamento social podem também ser sinais a ter em conta na identificação de um meio familiar violento. Além disso, como já referido anteriormente, devido a crenças irrealistas ou disfuncionais, as crianças tendem a aumentar as suas inseguranças, visível também através de uma crescente ansiedade, de uma baixa autoestima e de uma falta de confiança nele próprio e, também, no outro.

Por todas estas razões, há que estar alerta para que estas situações não se repitam ou tenham lugar. Mas existem processos e trâmites que as escolas (geralmente o principal agente de sinalização destas situações) e as comissões de proteção de crianças e jovens seguem para averiguar estas situações, e há que respeitá-las, de forma a evitar falsas acusações ou suposições erradas, também elas muitas vezes traumatizantes.

Como observadores, não devemos julgar antecipadamente uma família através de sinais ou sintomas isolados observados nas crianças. A estrutura familiar deve ser tida em conta, consultada e ajudada a lidar com os problemas que eventualmente levem a essa agressividade ou violência.

No entanto, devemos estar atentos enquanto membros responsáveis da sociedade e, se necessário sinalizar o caso às autoridades competentes, tendo sempre em vista o superior interesse das crianças, tanto no presente, como no futuro.