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“Deu positivo. E agora?!”

André Viegas

André Viegas

É inegável que o diagnóstico de se ser portador de uma doença crónica comporta implicações várias, inclusivamente implicações de cariz emocional.

O diagnóstico de Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH)/ Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) tem, contudo, um impacto peculiar na vida de quem recebe este diagnóstico considerando o peso moral e social que se desenvolveu desde o início de descoberta da doença. Hoje em dia, graças aos avanços da medicina, sabe-se que o HIV/SIDA é considerada como doença crónica. Contudo, ser portador da doença pode comportar um conjunto multifacetado de agentes stressores com um impacto adverso sobre o funcionamento da pessoa infetada, devido às implicações psicológicas, emocionais, sociais, relacionais e sexuais existentes.

Passar a viver com um diagnóstico de seropositividade de facto pode englobar a vivência de processos emocionais dolorosos, como medo, raiva, angústias, desespero e não raras vezes culpabilidade. Tanta coisa para um só ser! De facto, o espetro de sofrimento poderá ser de tal forma elevado que a maior parte dos estudos apontam a ansiedade e a depressão como fatores clínicos relacionados positivamente com o desenvolvimento e a propagação do vírus (Griffin, Cornell & Rabkin, 1998; Remor, Carrobles, Arranz, Maríínez & Ulla, 2001; Leserman, Petito, Gu & Gaynes, 2002). Quando as respostas de ansiedade se exacerbam, interagem pois com o surgimento de novos sintomas de evolução da doença, chegando a ser de tal intensidade que podem incapacitar o individuo de levar a cabo uma atividade normal (Limonero, 1997), de forma similar ao que sucede quando uma pessoa passa por elevados níveis de ansiedade (Miguel-Tobal & Casado, 1999). Realmente é cada vez mais sabido e aceite que existe um vetor direcional entre o estar-se mais frágil do ponto de vista emocional e a fragilização do sistema imunitário.

Constitui-se pois, de extrema importância, a pessoa infetada não viver com este cocktail emocional de forma isolada. Por vezes, não tão incomum quanto se pensa, o impacto deste diagnóstico é tão gritante que a forma da pessoa atenuar a sua dor é negando a existência da doença, processo psicológico com correspondência na não adesão à terapêutica retroviral.

Efetivamente existem fatores clínicos, sociais e psicológicos que interferem com este processo de adesão. Salientam-se os efeitos secundários da medicação, a complexidade do regime farmacológico, a prescrição da toma da medicação a longo termo, o aparecimento de mutações de resistência, a idade do doente, o nível educacional, os traços de personalidade dos sujeitos, apoio sócio-comunitário, funcionamento cognitivo e emocional, rede de suporte pessoal e social (Murphy, Roberts, Martin, Marelich, Marelich, & Hoffman, 2000; Tate, Paul, Flanigan, Tashima, Nash, Adanir, Boland, Cohen, 2003).

Tendo em conta os efeitos da condição de seropositividade sobre a esfera psicológica, a intervenção psicoterapêutica permite pois elaborar objetivos terapêuticos que podem contribuir para uma melhor qualidade de vida e bem-estar emocional destas pessoas, ajudando-as a adaptarem-se a esta realidade e a continuarem a viver a sua vida de forma mais adaptativa e o menos afetada possível (Coelho, et al., 2002; Miyazaki, Domingos, Valério, Souza & Silva, 2005).

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