Tempo de Leitura: 2 min

Autor: Inês Mota

Há um carácter imprevisível na unidade casal, pela possibilidade emergente de entrada em situação de crise.

De facto o dia-a-dia desafia constantemente os casais em vários níveis: por um lado situações inesperadas e por outro circunstâncias mais normativas de fases de vida, colocam-nos perante derradeiras provas.

As vicissitudes da actualidade acrescentam e somam mais barreiras: as dificuldades financeiras, a utopia da vivência permanente de um amor absoluto, a aclamação constante da realização das necessidades individuais.

Os casais que vão sofrendo a erosão na fortificação do seu espaço relacional pelo embate e impacto das crises e crenças mencionadas podem chegar a um ponto de viragem em que fazem retiradas na comunicação ou em que qualquer conversa é iniciada sob a forma abrupta de uma discussão acesa.

É importante que os casais aprendam a detectar sintomas de instabilidade e sofrimento que começam a instalar-se na relação, e que ajam sobre eles, ou que peçam ajuda para agirem sobre eles, antes de chegarem a um ponto de viragem, onde já pode ser difícil a reconexão.

O que em muitos casais acontece é que as tentativas de reconciliação, acabam por não ser verdadeiras resoluções das fontes de mal- estar, pelo menos para ambos os elementos dos casais, acabam mais por ser “um passar por cima” e “andar para a frente”.

Desta forma, e acrescentando-se a acessibilidade do divórcio na actualidade, cada vez mais a ruptura se insinue como saída para o mal- estar e sofrimento dos casais.

Não obstante, é importante que se tenha muito presente que o divórcio é uma crise muito profunda que afecta sempre ambos os parceiros, ainda que de forma diferente, que afecta necessariamente os filhos e que tem muitas vezes repercussões nas famílias alargadas.

É por isso importante que a saída do divórcio, possa ser realmente ponderada como uma melhor saída e que não seja um atalho tentado numa atitude de salvação e desespero em situações intensas de crises contínuas, após emergências de infidelidades, ou após explosões de discussões violentas.

Isto porque muitos casais se separam mantendo ambivalências em relação aos sentimentos recíprocos: “por uma lado gosto, por outro estou magoado ou triste ou zangado com…”, não sendo raro que as ambivalências não sejam maturadas, reflectidas ou resolvidas.

Nos momentos de crise é decisivo parar para se reflectir sentimentos, necessidades e procurar-se alternativas de entendimento ou eventuais redefinições de compromisso nas relações. Nestes momentos convém ter-se em linha de conta que um “casamento”, entendido como uma relação afectiva prolongada é constituída por momentos quentes, outros amenos e por outros muito gélidos, pelo que a compreensão e enquadramento da relação conjugal não deve ser feita num momento pontual e muito menos após um conflito.

Há um passo antes do divórcio que pode mudar a trajectória da sua vida, e que consiste em levar a cabo tentativas sérias para compreender a sua crise conjugal, já que é possível haver resolução sem ruptura, mas se a ruptura for o destino pretendido, que o seja após o entendimento como a melhor solução para a viagem já percorrida.