Portugal foi classificado como um dos países com maiores números de consumidores de bebidas alcoólicas.
De acordo com o World Drink Trends, Portugal detinha, há poucos anos atrás, o 8º lugar neste posicionamento de consumo, atrás de países como o Luxemburgo, República Checa, República da Irlanda, Alemanha, Espanha e Reino Unido. As doenças causadas pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas incluem a síndrome de dependência de álcool (SDA), com uma prevalência estimada em Portugal de 580 mil pessoas e a síndrome de abuso de álcool (SAA), estimada em 746.000 pessoas (Gameiro, 1998).
O álcool é consumido por via oral e atua como um depressor do Sistema Nervoso Central. A aparente estimulação ou efeito desinibidor conseguida com os primeira bebidas, mais não é do que o resultado da depressão dos mecanismos de controlo inibitório do cérebro. Em primeiro lugar são afetados os centros superiores (o que se repercute na fala, pensamento, cognição e juízo crítico) e posteriormente deprime os centros inferiores (afetando a respiração, os reflexos, e em casos de intoxicação aguda, podendo levar ao coma e até à morte) (Serecigni, J. et al., 2007).
A gradação do consumo caracteriza-se por etapas de intoxicação aguda que passa-se a caracterizar abaixo:
Fase de excitação psicomotora (alcoolémia entre 0.5 e 1.5 g/l de sangue):
• Desinibição;
• Euforia superficial alternada com período de tristeza e agressividade;
• Necessidade irresistível de falar e familiaridade excessiva;
• Alterações da memória, do discernimento e da atenção;
Fase de descoordenação (alcoolémia superior de 1.5 a 3 g/l de sangue):
• Desordem de pensamento que leva à confusão total;
• Sonolência progressiva até ao torpor;
• Descoordenação motora;
• Diplopia (visão dupla);
• Vertigens, náuseas, vómitos;
• Taquicardia.
Fase comatosa (alcoolémia superior a 3 g/l sangue):
• Coma profundo (na maior parte dos casos sai do coma ao fim de algumas horas);
• Hipotermia (descida de 5 a 6 graus da temperatura);
• Hipotensão arterial com risco de colapso cardiovascular;
• Amnésias lacunares (black-outs).
Realizando uma diferenciação entre o abuso do álcool e a dependência do mesmo, pode dizer-se que o abuso de álcool caracteriza-se por um padrão do consumo de álcool excessivo, repetido e recorrente e que se manifesta por consequências adversas na vida da pessoa. O abuso de álcool tem critérios definidos tanto no Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (DSM-IV-R), como na Classificação Internacional das Doenças (CID-10).
Como se identifica o padrão de Abuso de álcool?
a) Incapacidade de cumprir obrigações importantes (ex. faltas ao trabalho, à escola, quebra de rendimento);
b) Abusos Recorrentes em situações em que estes se tornam fisicamente perigosos (ex. conduzir um carro, manobrar uma máquina);
c) Problemas legais relacionados com comportamentos em estado de embriaguez (condução com álcool);
d) A pessoa continua a beber abusivamente apesar dos problemas sociais, interpessoais causados ou potenciados pelo abuso de álcool (ex. dificuldades conjugais, divórcio).
No que concerne ao Síndrome de dependência do álcool ou vulgo conhecido alcoolismo, pode dizer-se que este é uma tipologia clínica para denominar uma situação de dependência física e psicológica do álcool.
Como se identifica o SDA?
Devem observar-se pelo menos 3 ou mais dos seguintes sintomas num período de 12 meses):
• Tolerância elevada ao álcool (necessidade de beber cada vez mais quantidade para conseguir os mesmos efeitos, o que permite à pessoa atingir alcoolémias elevadas sem que apresente sinais de intoxicação);
• Perda de controlo (incapacidade de controlar a quantidade que ingere);
• Apetência ou Craving (desejo obsessivo de beber);
• Síndrome de abstinência (sinais da privação do álcool que surgem num período entre 4 a 12 horas após redução dos consumos, como, tremor, ansiedade, suores, náuseas etc. O álcool é consumido também para evitar ou aliviar estes sintomas;
• Existe desejo ou esforço para reduzir, controlar, cessar os consumos sem sucesso;
• Danos nas várias áreas da vida: família, trabalho, amigos, saúde;
• O consumo mantém-se apesar dos danos persistentes.
É frequente nas pessoas com esta problemática negarem ou desvalorizarem o seu comportamento de consumo nocivo do álcool e relacionarem os danos que têm na sua vida com esse comportamento. Neste caso, a família ou quem está próximo afetivamente da pessoa pode ajudá-la a tomar consciência que tem um problema de saúde e que deve pedir ajuda especializada. A prevenção de recaída surge como o desafio terapêutico no tratamento da dependência alcoólica, apelando a uma abordagem integrativa biopsicossocial (Lambaz & António, 2010).
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