Acabe antes de começar e navegue através da Mudança
A vida está em constante mudança e acontece a todos nós. Umas mudanças são escolhas outras são surpresas, nem sempre agradáveis. Quer seja por decisão nossa ou não, a mudança traz oportunidades e turbulência. Os problemas e constrangimentos acontecem, normalmente não pela mudança em si mas, pelo processo de transição e integração das novas condições de vida.
Mudar de emprego, casar- se, divorciar- se, conseguir o primeiro emprego depois da faculdade, ter o primeiro filho … tudo isto é mudar. Mudar de uma realidade de vida para outra. Na verdade estas são mudanças rápidas e importantes, como o primeiro dia do resto da nossa vida. Num dia estamos numa empresa, noutro dia estamos noutra ou no desemprego, num dia somos estudantes, noutro dia somos trabalhadores, num dia somos um casal com uma vida a 2, noutro dia somos uma família de 3. Mudanças! A mudança apenas acontece! Depende da situação: nova casa, nova relação, novo emprego, nova equipe, novo chefe… Mudança é algo que é externo à pessoa. É o acontecimento, a situação, ocorre.
Muitos acreditam que a Transição é automática, ocorre simplesmente porque há Mudança. Mas Mudança não é sinónimo de Transição. A integração de uma mudança na vida é um processo de adaptação e “apessoamento” de uma nova realidade, é a reacção das pessoas à mudança, é um processo interno, é um processo de Transição.
A Transição é o processo psicológico de aceitar e integrar as novas condições e detalhes que vêm com a mudança. Pode ser um processo doloroso, mas é absolutamente necessário e leva o seu tempo.
Passar da vida de estudante para a vida profissional traz o entusiasmo da aplicação dos conhecimentos que se aprendeu, de um primeiro ordenado e independência económica e implica simultâneamente uma vida com novas regras, horários e responsabilidades. Traz oportunidades mas, também novos e diferentes constrangimentos. E a adaptação a esta mudança implica uma transição, uma adaptação psicológica.
Um casal que tem o seu primeiro filho, embora feliz com o acontecimento, tem que lidar com uma vida mais restritiva que lhe permita usufruir da parentalidade. A chegada do novo bebé traz perda de tempo e liberdade. Para além eventuais noites mal dormidas, a disponibilidade para saídas com amigos, ir cinema, jantar fora e tempo para a relação de casal não é a mesma. Esta Mudança na vida do casal e de cada um exige um período de transição e adaptação.
Na Universidade podíamos concluir as cadeiras através de frequências, exames ou ainda em época especial de recurso. Na empresa temos prazos e objectivos para cumprir, há candidaturas e projectos que têm um, e só um, deadline. A Mudança é grande!
Mudança é rápida e a Transição é lenta! Cada transição começa com um fim e pode ser stressante e difícil.
Para Willian Bridges* a Transição é um processo necessário e que decorre em 3 etapas:
A primeira etapa é para Finalizar, pôr um fim. Deixar o passado para poder abraçar um novo presente. Deixar um passado de certezas, em que sabíamos como nos movermos, nos situarmos e o que esperar e, que não existe mais. Se permanecermos presos ao passado dificilmente nos adaptamos à nova realidade e aos novos papéis. Se queremos continuar uma vida livre, de festas e ausências de compromissos, não nos disponibilizamos para a vivência gratificante da parentalidade ou para usufruir do reconhecimento e valorização profissionais. Se ficarmos presos à relação conjugal que terminou como nos abrimos às oportunidades de uma nova vida? Os fechos e as perdas emocionais podem levar a reacções emocionais fortes como a ansiedade, zanga, desilusão, negação, desespero, felicidade, que não são forçosamente excessivas. É preciso fechar o passado, deixar ir o que costumava ser. Ser firme com o fim.
Pode ser um choque, doloroso mas representa uma oportunidade de um começo fresco e estimulante. O que vai acabar? Quem vai sofrer com isso? Será que estou a perder a minha identidade? O que é a minha vida sem a liberdade da universidade ou da vida de solteiro? Quem sou eu sem a equipe com quem trabalhei durante anos? Quem sou eu sem o meu marido ou mulher de quem me divorciei? Quem sou eu que adoro ser pai, mas também homem, marido, amigo…. Quem sou eu ?
Perceba os pontos de dor e seja firme a finalizar o passado.
Segue-se um etapa em que há uma Zona Neutra de Ambiguidade e Exploração. Nesta etapa em que acabou uma fase e ainda não começou a outra, tudo é caótico, confuso, ambíguo, “nem carne, nem peixe”. É desconfortável e por isso temos tendência a querer sair dela. Pode ser um tempo de quebrar ou avançar. Pode ser um tempo de começar a explorar o conforto com a nova mudança, de redescoberta, de abandonar as “roupas velhas”, gastas e “fora de moda” e de construir e desenhar novos modelos. Não é um tempo fácil mas pode fazer avançar a sua vida.
Reserve tempo para si, reavalie a sua história, veja o que aprendeu e de que se quer livrar, que lastro quer deitar fora, descubra o que realmente quer e qual o seu propósito de vida. Prepare-se para quebrar velhas regras e deixar a criatividade e a curiosidade fluir e que pode fazer toda a diferença.
Na etapa em que começamos a abraçar a nova mudança, permitimos Novos Começos, acedemos a uma nova Esperança. Estamos dispostos a seguir em frente. Ninguém sabe o Futuro e os novos começos são sempre arriscados, não temos a certeza para onde nos levam mas podem trazer um mundo de oportunidades, não só de constrangimentos.
Esta terceira fase requer um novo caminho e que as pessoas se comportem e funcionem de forma diferente. Pode ser desconcertante pois coloca a noção de competência e de valor em risco. Na Universidade era finalista, na empresa é principiante, como mulher é adulta, como mãe é junior e insegura, como casado sabia posicionar-se como divorciado como o deverá fazer?
Seja consistente com o seu propósito de vida, não deixe dúvidas sobre o que quer alcançar. Quero ser um bom pai mas também marido e profissional, quero ter uma carreira nesta empresa, quero fortalecer as minhas amizades e aprender a viver sozinho. Defina metas concisas e alcançáveis e que garantam rápidos sucessos. Combine com os seus amigos no parque infantil amigos para integrar na parentalidade as suas amizades. Fazer um jantar a dois, 1 vez por mês, para manterem a cumplicidade de casal. Se terminou uma relação inscreva-se nas aulas de pintura, num dia em que não tem os filhos consigo ou que costumava ser tempo de casal. Vá almoçar com colegas do novo emprego ou beber um copo ao fim da tarde… Celebre o novo começo.
Todos nós nos movemos por estas etapas, alguns mais rápidos, outros mais lentos. Alguns tropeçam no processo de transição. Quando não se deixam velhas formas de ser e de funcionar e não se põe um fim ao passado, quando se fica assustado e confuso na zona neutra e não se permanece nela tempo suficiente, ou quando se ultrapassa estas duas primeiras fases mas se congela perante um novo começo, falha-se no processo de Transição.
Aproveite as oportunidades e não se assuste com os constrangimentos. O processo de transição é aprender a lidar com o medo e a incerteza.
Crescer é doloroso, mudar é doloroso mas nada é mais doloroso do que ficar num sítio a que não se pertence!
Refª – * Bridges. Willian –“Transitions : Making Sense Of Life’s Change”
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Achei muito pertinente principalmente para quem, acredita ter passado dessa primeira fase: “Os fechos e as perdas emocionais podem levar a reações emocionais fortes como a ansiedade, zanga, desilusão, negação, desespero, felicidade, que não são forçosamente excessivas”. Agora iniciando a segunda etapa
“abandonar as “roupas velhas”, gastas e “fora de moda”” . Só falta começar a “construir e desenhar novos modelos”.Espero por isso.
Muito bom o texto