Actividades em Família
Sugestões da Equipa OP
O mês de Maio é considerado como o “Mês da Família” por excelência, com o dia 15 de Maio a assinalar o “Dia Internacional da Família”, instituído pela Organização das Nações Unidas, em 1993.
Na Oficina de Psicologia decidimos alargar o conceito de “família” para além da sua versão mais tradicional, considerando todos aqueles que estão unidos por vínculos próximos e significativos e cujas relações merecem todo o cuidado e atenção. É, precisamente, pensando em temáticas relacionais e familiares que a nossa equipa selecionou e, vem sugerir, um conjunto de filmes, séries, livros e actividades que podem ser partilhadas.
Como atividade sugiro uma noite de jogos – jogos de tabuleiro, cartas, dados ou mímica são exemplos – a acontecer todas as semanas num dia e horário pré-estabelecidos. Permite a responsabilização pelo ‘tempo em família’ e a colaboração em equipa, bem como um convívio agradável que fortalece os laços.
Para melhor gerir possíveis conflitos, sugiro que também seja definido um dia fixo para que a família se reúna e tenha momentos destinados “apenas” ao diálogo e à partilha. Podem, por exemplo, reunir-se todos os almoços de domingo. Cada vez mais, com a correria do dia a dia e todas as solicitações, o tempo de qualidade em família acaba por ficar para segundo plano e damos nós como sendo só companheiros de casa.
Escolho o filme de animação “Coco” de 2017, um belíssimo filme e que “faz chorar as pedras da calçada”. O personagem central é Miguel Rivera, um menino de 12 anos cujo sonho de ser músico entra em conflito com os objetivos da sua família que, inexplicavelmente, baniu todas as formas de música, por gerações. Não satisfeito em seguir o caminho tradicional que lhe foi traçado, o Miguel irá numa viagem emocionante através da Terra dos Mortos, onde os mistérios da sua ascendência e as razões por detrás da proibição da música irão ser descobertos.
A principal mensagem do filme é o foco nas relações familiares, na sua complexidade, passando por temas como processos de diferenciação da família de origem, descoberta pessoal, ligação e procura de pertença à família, união, perda e luto.
Um dos meus programas preferidos em família passa por uma visita ao Badoca Parque. No parque existem diversas actividades, que ocupam um dia inteiro. Estas actividades podem ser o safari, rafting, aves de rapina, animais da quinta, sempre em passeio a pé pelo parque. Leva-se ainda o almoço em formato de piquenique, o que, sobretudo, os mais novos adoram.
A promoção do tempo de qualidade em família e a criação de experiências de aventura em conjunto contribuem para o sentimento de pertença.
Para quem ainda não viu, a série “Malcom in the Middle” (2000) é um clássico das comédias familiares. Tem como personagem principal o Malcom, um rapaz sobredotado a lidar com várias questões de pré-adolescência até ser jovem adulto, numa família grande de classe baixa (com mais de 6 membros). O que mais se destaca para mim, nem é tanto a personagem principal, mas sim as dinâmicas e as formas de ser de cada personagem a desenvolverem-se progressivamente até se tornarem adultos. Por mais caótica que seja uma família de 4 (e depois 5) rapazes jovens que gostam de quebrar, muitas das interacções que cada pessoa tem na família é destacada pelo seu desenvolvimento, sobre o que são “comportamentos errados” e o que eles são enquanto pessoas.
Com a aproximação do final da série, cada um encontra algum propósito para a sua vida e, por mais indisciplinados que os filhos tenham sido e por mais caótico que tenha sido o seu crescimento, vê-se um esforço ativo dos pais de incentivo ao crescimento. “Malcom in the Middle” retrata o caos que é uma família grande e a tensão oriunda de pertencer a uma classe baixa.
A série “Atypical” representa o dia a dia de pessoas com perturbações no espectro do autismo, oferecendo um retrato autêntico dos desafios e conquistas alcançadas pelo personagem principal, Sam, e pela sua família.
Por se tratar de uma série, permite observar a transformação e crescimento emocional das personagens ao longo dos episódios, assim como dos laços entre elas. Aborda a transição da juventude para a idade adulta, que engloba conflitos com os pais, professores e outros adultos, assim como com os pares, numa fase caraterizada pela típica sensação de incompreensão vivida na descoberta da própria identidade. Aborda, assim, diversos temas como comportamentos de risco, independência, entrada na faculdade, formação de relacionamentos, sexualidade, etc., de forma leve e descontraída.
Também retrata a terapia de uma maneira positiva, como sendo uma ferramenta eficaz para lidar com questões emocionais e desenvolver competências sociais.
Um dos maiores trunfos desta série é a sua representatividade, permitindo ajudar a compreender a luta de cada personagem. Ajuda a lidar com estigma, preconceito e diferença, transmitindo uma mensagem positiva de esperança sobre a possibilidade de vingar no mundo apesar das adversidades, com a ajuda da família e de uma boa “família alargada”.
A minha escolha é o filme “Boyhood” (2014), um drama que aborda as dinâmicas familiares de um casal divorciado, bem como a importância do apoio dos dois progenitores ao longo do crescimento dos filhos, na infância e adolescência – desde a sua entrada na escola, aos 6 anos, até ao ingresso na universidade, aos 18.
A minha sugestão recai sobre o filme “Big Fish” (2003). Porquê? Sobretudo pela parte que se relaciona com a família e com o facto de irmos crescendo e vendo os pais como as pessoas que realmente são e conciliando essa realidade com as personagens míticas da infância que criámos a partir deles.
A minha recomendação é o filme “Coco” (2017). Escolhi este filme por ter personagens muito carismáticas, com as quais é fácil nos relacionarmos. Aborda a transição da personagem principal de criança para adolescente, levantando questões de “obediência” vs. “rebeldia”, com que tantos pais e filhos, muitas vezes se deparam.
É um ótimo filme para explorar também temas como a cultura e religiosidade, enquanto marcos de influência na vida de muitos de nós e o quanto estruturam e enriquecem a nossa vivência. Mostra a importância de manter tradições, mas também alerta sobre a necessidade de quebrar com algumas normas e regras estabelecidas que podem estar a impedir-nos de progredir.
Por último, mas mais importante, aborda a família e a importância dos laços que criamos uns com os outros. O quão importante é ouvir, compreender e perdoar. A âncora familiar é excelente para tocar em temas mais “tabu” para os adultos conversarem com os seus filhos, como a morte, utilizando o “dia dos mortos” para passar a comovente e bonita mensagem de que a família é o melhor que temos e continuará a ser família, por mais anos que passem, desde que nós os recordemos sempre na nossa memória e nos nossos corações.
A minha sugestão de actividade passa pela construção de um álbum de fotografias de família (de preferência, físico), que não tem que ser a “de sangue”. Pode incluir apenas a família nuclear ou, também, a alargada. Passa pela selecção de momentos que contem a história da família e permitam recordar bons momentos. Se possível, adicionar recortes, mensagens, frases, à mesma (por isso é que o físico é preferencial, mas nada que “prós” do digital também não saibam fazer).
Decidi partilhar uma das minhas leituras mais recentes: “Para Tão Curtos Amores, Tão Longa Vida” (2023), do Professor Daniel Sampaio. O livro fala-nos sobre o amor e a história de um casal que viveu uma história durante 50 anos. São explorados temas como a infidelidade e questões de confiança, as dificuldades da monogamia, ou as dificuldades vividas no casal com o nascimento de um primeiro filho. Um pormenor interessante, na minha perspetiva, é a descrição que é feita relativamente aos tipos de vinculação e a sua relação com os padrões relacionais na vida adulta, nomeadamente, nas relações românticas. É um livro que traz muita clareza sobre as relações.
A minha escolha é a série “Young Sheldon” (2017), que se foca em dramas familiares encontrados nas relações de casal e na parentalidade, com a particularidade de acompanhar um miúdo “especial”, quer pela inteligência, quer pela aparente presença de um “Síndrome de Asperger”. Embora tenha um objetivo cómico, os episódios terminam habitualmente com uma “lição emocional”. Dessa forma, acho que estimula bastante a capacidade de assumir a perspetiva dos outros, bem como a reflexão sobre o que é uma família e o que esta implica em termos de negociação, sacrifício, apoio, brincadeira, etc…
Sugiro um filme muito comovente, “Little Miss Sunshine” (2006), que acompanha a família Hoover numa viagem de carro para apoiar a Olive (membro mais novo), num concurso de beleza. Apesar das suas diferenças e lutas individuais, os membros da família juntam-se, respeitando e apoiando os sonhos uns dos outros. À medida que enfrentam vários desafios ao longo da viagem, vão aprendendo a importância do amor, da aceitação e da resiliência face aos altos e baixos da vida. Este filme mostra o poder da união, do apoio e do amor incondicional, realçando os laços – que podem ser – imperfeitos, mas duradouros, da família.
Destaco o filme de animação da Pixar, “Inside Out” (2015), que retrata a vivência de Riley, uma menina de onze anos, durante um período desafiante da sua vida. Ao longo do filme, é transmitida a importância de aceitar e processar todas as emoções, mesmo as mais desconfortáveis. A família surge como um elemento central neste enredo, salientando a relevância de uma comunicação aberta e segura, do apoio emocional e do amor incondicional – ingredientes essenciais ao desenvolvimento saudável do ser humano.
Como possíveis atividades deixo três ideias:
- Viajar em família: proporciona uma oportunidade para criar memórias e fortalecer os laços familiares. Alguns exemplos poderão ser explorar uma cidade histórica, visitar um parque nacional ou aventurar-se num roteiro gastronómico regional.
- Trocar de papéis: assumir o papel de outro membro da família poderá ser desafiante. Contudo, proporciona uma oportunidade única para melhor compreender o outro, as suas responsabilidades e desafios. Ademais, esta atividade contribuirá para o desenvolvimento de competências de comunicação, requerendo que cada indivíduo expresse as suas necessidades e ouça ativamente, por forma a resolver conflitos de forma construtiva.
- Passar um dia sem ecrãs: vivemos num mundo acelerado, com estímulos a competir constantemente pela nossa atenção. Minimizar as distrações poderá conferir-lhe e, à sua família, uma oportunidade para se conectarem uns com os outros, seja através de conversas significativas, atividades ao ar livre ou, simplesmente, de estar presente.
Escolho a série “The Modern Family” (2009), que é “leve” e explora diferentes ângulos de dinâmicas familiares e relacionais, acabando por retratar diferentes realidades e vínculos com que, ou já nos confrontámos, ou poderemos vir a confrontar ao longo da vida. Esta “familiaridade” faz com que seja muito fácil identificarmo-nos com as personagens e “calçarmos” os seus “sapatos”.
Sugiro vivamente a série “This is Us” (2016), uma história inspiradora sobre a força dos laços familiares, cuja acção se desdobra em épocas diferentes das vidas de cada personagem e nos permite acompanhar o seu crescimento no sentido literal e figurado. É uma série que faz rir e chorar e, principalmente, nos incita a reflectir de forma empática sobre as relações humanas, as emoções e o impacto dos traumas. Com atuações extraordinárias do elenco, esta série aborda de forma profunda temas do quotidiano, bem como a adopção, o alcoolismo, a obesidade, o racismo, a demência, os desafios da maternidade/paternidade nas várias fases de vida, etc…
De entre os livros de José Luís Peixoto que se destacam pelas temáticas familiares e focam a relevância dos laços próximos e significativos, destaco o livro intitulado “Almoço de Domingo” (2021). Neste romance/biografia são retratadas várias gerações portuguesas e as suas vidas, no período entre 1931 e 2021, incluindo acontecimentos históricos, a partir da lente de uma geografia e de uma família específicas. É uma reflexão sobre a idade, sobre a vida contra a morte, sobre o amor profundo e ancestral de uma família reunida, em torno do patriarca, no seu almoço de domingo.
O documentário/drama “Longe da Árvore” (2017), que se inspira no livro homónimo “Longe da Árvore: Pais, filhos e a busca de identidade” de Andrew Solomon, fala-nos sobre a família. Sobre a família em que nascemos e sobre a família que construímos. O documentário acompanha famílias que enfrentam desafios exigentes, só superáveis com a presença do amor, empatia e compreensão indispensáveis às relações humanas. Alerta-nos para a valorização da vida e das diferenças (esquecendo preconceitos e padrões do que será a “normalidade”) e para que saibamos apreciar as pessoas que amamos por tudo que elas são e, não, pelo que poderiam ter sido.
As actividades partilhadas com quem nos é mais próximo podem acontecer espontaneamente e com recurso à imaginação e criatividade, ou ser programadas e recorrer a materiais já existentes, que não limitam a espontaneidade. A editora “Ideias com História” oferece várias possibilidades. Aconselho o Kit Psicopedagógico “Somos uma Família” (2021) (inclui um jogo de tabuleiro e um “Manual de Boas Práticas para Pais Divorciados”), com a separação e o divórcio como pano de fundo. Estes momentos de crise e transição provocam alterações importantes na estrutura e organização das famílias, que exigem a capacidade de reorganização e ajustamento à nova configuração familiar, com redefinição de fronteiras, papéis e limites.
Estes materiais permitem que sejam abordados temas como a família, o processo de comunicação, o facto de a(s) criança(s) passar(em) a ter duas casas, a escola e as actividades, a gestão das férias e das datas festivas, e o tribunal. O jogo de tabuleiro pretende facilitar a expressão emocional, cognitiva e a gestão comportamental, por forma a prevenir eventuais dificuldades de ajustamento das crianças da família.
A família é, por definição, o cenário onde crescemos e aprendemos a nos relacionar; onde damos e recebemos afetos, empatia, conexão e segurança.
É, também, o cenário que permite o confronto connosco, com o nosso melhor e pior; com as nossas dificuldades ao nível da vinculação e nos motiva a melhorar. É um cenário de eterna aprendizagem, crescimento emocional e relacional, à medida que assumimos diferentes papéis, diferentes perspectivas, que nos enriquecem.
Neste contexto, a minha seguinte sugestão de leitura é “Parenting from the Inside Out: How a deeper self-understanding can help you raise children who thrive – Mindful Parenting” (2014), da autoria de Daniel J. Siegel e Mary Hartzell.
Tornarem-se pais é, para muitos, o início do confronto com o legado da família de origem, com aquilo que queremos manter e o que queremos melhorar. São muitos os pais que consideram que têm que ser perfeitos. O livro “The Power of Showing Up: How Parental Presence Shapes Who Our Kids Become and How Their Brains Get Wired” (2020), também da autoria de Daniel J. Siegel, acompanhado por Tina Payne Bryson, demonstra a importância de “estarmos presentes” física, mental e emocionalmente na relação com os filhos e o que é necessário para promover o seu crescimento emocional, social, relacional, académico, profissional.