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Antidepressivos

Porque me prescreveram antidepressivos se o meu problema é ansiedade?

 

A ansiedade é uma emoção normal e adaptativa…até certo ponto. É caracterizada por uma série de alterações fisiológicas que nos permitem um melhor desempenho face a um desafio ou ameaça. Assim, do ponto de vista evolutivo, a ansiedade faz sentido porque, enquanto espécie, aumenta a nossa capacidade de sobrevivência. Contudo, quando se torna mal adaptativa – ou seja, quando é excessiva ou demasiado prolongada no tempo – pode ganhar contornos patológicos. Falamos então de uma Perturbação de Ansiedade. Este é um diagnóstico que merece a atenção de um técnico de saúde mental uma vez que, sem intervenção terapêutica, pode cursar com agravamento progressivo e cronificação.

 

Os sintomas ansiosos são múltiplos. Em cada pessoa pode-se manifestar um portfólio de sintomas ansiosos diferente. Existem, no entanto, dois sintomas que parecem ser transversais a todos os quadros ansiosos: o medo e a preocupação.

 

De forma muito simplista, podemos alocar o “medo” a circuitos neuronais onde a amígdala cerebelosa assume um papel importante.

 

A amígdala é uma área do cérebro onde ocorre o processamento de informação sensorial e cognitiva que poderá, ou não, desencadear uma resposta de medo. Podemos pensar nela como um maestro que coordena diferentes elementos que, em conjunto, compõem uma resposta ansiosa.

 

A amígdala comunica com o córtex frontal onde se processa a emoção de medo (o sentimento em si), e com um núcleo do tronco cerebral que coordena a resposta motora associada ao medo (“fight or flight”!). Contacta ainda com outras duas áreas do tronco cerebral que induzem alterações fisiológicas importantes: com o núcleo parabraquial que altera o padrão ventilatório (desencadeando sensação de falta de ar e inspirações rápidas e superficiais que agravam a sensação de ansiedade), e com o locus coeruleus que ativa o sistema cardiovascular levando a um aumento da frequência cardíaca e tensão arterial. A amígdala cerebelosa relaciona-se ainda, e pode ser ativada, pelo hipocampo, o nosso “baú de memórias” – razão pela qual não só os eventos ameaçadores, mas também as memórias ameaçadoras, têm a capacidade de nos causar medo.

 

A “preocupação” caracteriza-se por pensamentos recorrentes, negativos e sobrevalorizados e um estado de apreensão persistente. Também, de forma reducionista, avaliamos que a preocupação é regulada por um circuito neuronal que integra diferentes áreas cerebrais como o córtex pré-frontal dorso-lateral, o tálamo e o corpo estriado.

 

Estes circuitos subjacentes ao medo e à preocupação têm como principais mediadores neurotransmissores – pequenas moléculas que facilitam a comunicação entre os neurónios que formam os circuitos. Dentro destes, a serotonina assume um papel de destaque.

 

Os antidepressivos são fármacos que modulam os circuitos neuronais, muitas vezes através da regulação dos neurotransmissores. São por isso os fármacos de eleição para as perturbações ansiosas, além das depressivas.

 

Os fármacos ansiolíticos, em particular as populares Benzodiazepinas, oferecem um alivio imediato dos sintomas ansiosos – e podem por isto ser muito úteis como fármacos adjuvantes – mas não têm a capacidade de modular os circuitos que estão desregulados na ansiedade como os antidepressivos fazem.

 

Metaforicamente, da mesma forma que para o tratamento de uma pneumonia usamos medicamentos que baixam a febre (e aliviam os sintomas rapidamente) mas precisamos simultaneamente de um antibiótico para controlar a infeção pulmonar, também nas Perturbações de Ansiedade usamos medicação ansiolítica que proporciona um alivio sintomático rápido enquanto o antidepressivo atua na “raiz dos sintomas” com resultados mais consistentes a longo prazo.