Autor: Marta Andersen
Durante a puberdade e adolescência as amizades vão ganhando progressivamente maior importância para os seus filhos. Ser-se aceite fazer parte do grupo de pares é fundamental para a construção da identidade do adolescente, que assim vai definir os seus valores, ideias e opiniões acerca dos outros e do mundo.
No entanto, o formato das amizades dos adolescentes atuais é bem diferente dos dos seus pais. As redes sociais trouxeram mudanças importantes na forma de viver e construir as amizades. Enquanto os pais desenvolveram predominantemente amizades na escola, que eram suportadas pelo convívio diário com os amigos (entre a escola, as idas ao café e as festas de aniversário), os adolescentes atuais têm muitas vezes mais tempo de contacto “virtual” com os amigos, do que tempo “real”.
Qual é o impacto das redes sociais nas amizades dos adolescentes? Quais as vantagens e desvantagens?
Com as redes sociais o próprio conceito de amizade parece ter-se alterado. Enquanto que para construir uma amizade na vida real, é preciso que haja um desejo mutuo de conhecer o outro e a relação é construída em privado, pela partilha de momentos que vão reforçando a cumplicidade entre amigos, nas amizades nas redes sociais basta clicar em alguém para se tornar seu amigo, e a partir desse momento o outro passa a ter acesso a tudo que o amigo publicar. Para além disso, enquanto na vida real todos procuramos ter “poucos mas bons” amigos, nas redes sociais os adolescentes habitualmente procuram ter muitas amizades, sendo que a quantidade suplanta a qualidade.
No entanto, nem tudo são desvantagens. Num mundo em que a maior parte dos pais desenvolveu um enorme receio de deixar os seus filhos conviver fora de casa, as redes sociais são muitas vezes o único local de convivio para os adolescentes. Assim, as redes sociais permitem ao adolescente conviver regularmente com os amigos, assim como partilhar instantaneamente ideias e sentimentos.
Outro aspecto importante é que as relações nas redes sociais são mediadas, isto é, a relação não é feita directamente, como na vida real, mas através da rede social. Isto possibilita ao adolescente pensar antes de responder a um comentário, ao contrário da vida real, em que temos de ter a capacidade de dar respostas imediatas. Por um lado, isto acarreta vantagens: o adolescente pode, de forma segura, praticar as suas competências de comunicação, ganhar confiança nas interações sociais e construir amizades de forma mais confortável. Mas, por outro lado, o adolescente pode permanecer inapto para dar resposta aos desafios que a vida real mais cedo ou mais tarde lhe irá trazer. Além disso, as redes sociais permitem aos adolescentes projetarem características idealizadas, que não correspondem necessariamente ao que são ou a como se sentem. Por exemplo, podem colocar uma mensagem ou uma foto que transmite uma enorme auto-confiança e alegria, quando na realidade se sente inseguro e desanimado. Este facto pode levar a que os jovens, mesmo com inúmeros amigos nas redes sociais se sintam extremamente incompreendidos e sós.
A influência das redes sociais na construção de amizades é inegável. No entanto, não devem servir como um substituto das amizades e do convívio na realidade.
Fica então um desafio para todos os pais: converse com o seu filho sobre as amizades dele. Tente perceber se de facto tem amigos com quem pode contar, na escola e nas redes socias, e ajude-o a descobrir formas de se sentir confortável tanto nas amizades virtuais como nas de “carne e osso”.