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Autor: Rita Castanheira Alves

Será que já lhe aconteceu? Uma frase, uma reacção do seu filho ou da sua filha que o deixou sem saber o que dizer ou fazer?

Aqui ficam alguns exemplos do que já ouviu ou poderá ouvir e algumas estratégias para que não perca o controlo e não fique de boca aberta muitas vezes.

“Odeio-te/Não gosto de ti” ou “Quero que morras!” ou “És mau/má!”

Geralmente as crianças e os adolescentes dizem este tipo de frases quando alguma coisa lhe é negada ou não lhe é permitida, como reacção à frustração e ao impedimento. Não significa que realmente a criança ou adolescente deseje ou pense o que disse.

Para lidar com este tipo de frases, em primeiro lugar é importante que os pais não se mostrem demasiado afectados, chorando ou cedendo ao que a criança ou jovem pediu por receio de não ser gostado ou ser rejeitado pelo filho, uma vez que ao fazê-lo estão a dar atenção negativa à criança e a transmitir-lhe a mensagem de que esse tipo de frases leva a que consigam o que querem, o que leva à sua repetição.

Por outro lado, é importante reflectir o que realmente a criança ou jovem está a sentir “Parece-me que estás muito zangado porque não te dei o que querias” ou perguntar porque está zangado.

O que não se deve dizer? Não cair na tentação de responder igual: “Também não gosto de ti”, está a ser dada novamente atenção negativa pela atitude e a modelar comportamentos desadequados na comunicação e respeito pelos outros.

“Não mandas em mim/Por que é que és tu a mandar?” ou “Se não fazes/não deixas vou pedir ao pai/à mãe” ou “Quero ir viver com o pai/a mãe” ou “Vou fugir de casa…”

Crescer é testar limites e as crianças e adolescentes ao longo do seu desenvolvimento fazem-no no sentido de perceber até onde podem ir com os seus comportamentos e experimentando diversas formas de conseguir o que querem. Por outro lado, crianças e adolescentes vivem as emoções de forma mais extrema e vincada, com maior intensidade e necessitam de ajuda para pautarem a intensidade e reconhecimento das suas emoções.

Frequentemente, perante regras e imposições dos pais, os filhos tentam perante a frustração desafiar os pais, usando este tipo de frases, no sentido de medir forças e desafiar limites e regras. Perante pais separados, com casas diferentes, esta situação pode intensificar-se, daí ser tão importante que pais separados continuem numa tarefa de consistência constante nas suas práticas parentais.

Perante tais frases, é importante não ceder por medo ou receio de perder a confiança do filho e deste sair mesmo de casa. Manter uma postura firme, assertiva e levar o que foi dito até ao fim é importante para que este tipo de frases não passem a ser uma estratégia. A comunicação e articulação entre pai e mãe é fundamental, evitando a desautorização de um dos pais pelo outro e a quebra constante de regras e desafio da criança/adolescente com o mesmo.

“Quero já/Tem de ser já!”

Este tipo de frases que mais uma vez mostram que a criança está provavelmente a testar limites e regras, é uma excelente oportunidade para desenvolver a capacidade da criança de tolerar a frustração e saber esperar. Na infância e adolescência, a noção de tempo e de espera é mais difícil de compreender e a espera de um dia pode parecer para a criança uma eternidade.
Cabe aos pais ajudar a criança a desenvolver a sua capacidade de saber esperar e consequentemente, ajudá-la a desenvolver a noção de tempo.

Perante tal frase, pode reflectir de forma assertiva e calma que percebe que esteja com muita vontade de ter algo ou fazer algo mas que não é possível naquele momento e dizer-lhe (se possível) quando irão fazer e que juntos vão ter a capacidade de esperar. Ceder porque é feita uma imposição pela criança é tirar-lhe a possibilidade de saber esperar, necessidade que será constante ao longo da vida.

Respire fundo… É normal que possa acontecer, o importante é saber o que fazer…

É frequente os pais terem dificuldades e sentirem-se angustiados perante este tipo de abordagens por parte dos filhos. Em alguns casos, poderão ser apenas situações pontuais que têm uma resolução imediata e que se dissipam rapidamente, em outros casos, em que já há dificuldades de limites e regras instaladas, são padrões de comunicação que se verificam há bastante tempo, havendo pais muito afectados e magoados pelo tipo de frases ditas. Compreender o porquê das frases, o que está na base em termos de comportamento e emoções e adquirir um conjunto de estratégias para lidar com as mesmas, leva a que os pais se sintam aliviados e capazes.

Os pais são pessoas, como tal, apesar de adultos e de poderem estar atentos para darem respostas apropriadas às frases dos filhos que magoam, podem em certos momentos, perder a calma e responder de forma menos adequada. No entanto, é possível voltar atrás e conversar com a criança ou adolescente, apontando o que sentiu e pedindo desculpa pela reacção também ela desadequada. Assim, podem ajudar os filhos a perceber o que fazer numa situação em que cometeram um erro, mas também ajudá-los em futuras situações em que magoam os pais, mais tarde e mais calmos a pedir desculpa e a reflectir o porquê de terem dito uma frase que magoou o pai/mãe.

No caso dos adolescentes, é frequente que as emoções sejam muito intensas pela fase de desenvolvimento em que se encontram, podendo ser importante não falar sobre a situação no momento e mais tarde reflectir sobre o que disse, o que a mãe/pai sentiu e o que será que queria dizer.

Sintetizando, nas diferentes situações pais e mães poderão tentar manter calma; respirando fundo e se necessário não reagir de imediato; estarem atenta(o)s aos seus sinais corporais que transmitem à criança/jovem para evitar que esse tipo de frases se mantenha sempre que é contrariado: tom de voz, olhar, gestos ; treinar a assertividade, transmitir frases curtas, claras, num tom de voz firme mas calmo e pausado; se necessário sair da situação para se acalmar e voltar mais tarde, evitando assim reacções impulsivas e não reflectidas; ter sempre presente que na maioria das vezes as crianças/adolescentes estão a testar limites, a reagir contra a frustração e contrariedade e não pensam ou sentem exactamente o que estão a dizer.