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[h2]Hoje tenho de ir às compras![/h2]

Compras compulsivasQuantas e quantas vezes se sentiu com vontade ou se ouviu a si própria a falar na disposição de passar pelo shopping ou de ir fazer “uma comprinha”, que ainda não sabe muito bem qual será?

Em quantas ocasiões teve aquela vontade de se mimar, de oferecer a si própria um momento de gratificação, de compensação, que “puxe” para cima e a ajude a levantar a moral, a acalmar o sabor amargo das frustrações, ou a aliviar as tensões?

Sabia que este acto, para si reparador e perfeitamente inócuo, é vivido/realizado por muitos sujeitos de um modo compulsivo e quase irrefletido, invalidando a sua vida social, familiar e relacional?

Se quiser perceber qual a ténue linha entre o “naturalmente” compensador e a dependência, deixe-se seguir pelas próximas linhas…no final, talvez nos encontremos por aí um dia destes, no meio das nossas compras…

E, sendo certo que os tempos actuais deixam pouca margem para auto-indulgências, talvez queira corrigir impulsos nocivos, como estes, aproveitando a nossa terapia de grupo em controlo de impulsos, em Lisboa, Porto e Coimbra!
[h2]A compra compulsiva[/h2]

A adição às compras –  também conhecida como oniomania, ou compra compulsiva – é uma das pouco divulgadas dependências, em que o mecanismo da dependência não resulta de uma substância, mas do modo compulsivo de realizar um comportamento – a compra. São desta situação exemplo, as compras compulsivas de Maria Antonieta, de Jacqueline Kennedy Onassis e de Diana de Gales, as duas últimas segundo consta, no que toca a vestidos.

Para além de se reflectir a nível comportamental na busca do objeto, a dependência às compras acaba por promover a absorção total da pessoa, que a seu tempo se vai desligando e esquecendo da vida social e familiar, assim como do trabalho e dos seus outros interesses; Mesmo tendo consciência das suas possíveis perdas, a pessoa não consegue deixar de procurar o objecto da sua dependência: o fazer compras.

As compras compulsivas reúnem características similares à dependências das substâncias, nomeadamente no que se reporta à necessidade de ir aumentando progressivamente o tempo e o dinheiro gasto nas compras para obter os efeitos desejados (à semelhança do aumentar da dose das tomas); também aqui se regista a incapacidade de controlar o impulso que activa o comportamento, que nas compras se apresenta como uma compulsividade com o objectivo de aliviar um sentimento desagradável.

Quando o comprador compulsivo se vê impossibilitado de realizar as suas compras, a abstinência é sentida com um profundo mau estar; Quando a compra ocorre, é vivida uma sensação de recompensa psicológica, que origina nestas pessoas uma segregação maciça de dopamina, proporcionando uma sensação de prazer ou de diminuição de tensão (à semelhança do consumo da cocaína), circunstâncias que funcionam como reforço para sucessivas repetições da experiência.

Vários estudos realizados, apontam para o facto de as  ocorrer em maioria junto a mulheres jovens, entre os 30 e os 40 anos, iniciando-se por volta dos 20 anos; No entanto, nos últimos anos detectou-se um notório acréscimo desta dependência nos homens. Pensa-se que neste caso em particular, a primazia  no género feminino, se deverá ao facto de nas sociedades industriais, as compras serem uma tarefa sobretudo feminina.
[h2]Critérios de diagnóstico[/h2]

  • A gratificação resulta do próprio ato da compra, não sendo particularmente importante o objeto adquirido;
  • O consumo não planeado excede as possibilidades económicas da pessoa originando um gasto excessivo;
  • Se a pessoa passa próximo de um espaço comercial e não entra, vive o síndroma da abstinência, que só se reduz com a entrada;
  • As compras excessivas não ocorrem apenas em períodos de mania ou hipomania;
  • Os objectos adquiridos que normalmente não são de primeira necessidade, são habitualmente esquecidos nos armários, oferecidos ou colecionados;
  • A estimulação resulta da cerimónia que envolve o ato da compra: o usar do cartão, o sentir os sacos nas mãos ou vê-los na mala do carro, ou o receber a atenção dos empregados, por exemplo;
  • As promoções, a publicidade, as montras, o estrear algo novo, são estímulos que desencadeiam ainda mais a apetência, compulsividade e excitação das compras;
  • A frequente preocupação ou impulso de compra são sentidos de um modo irresistível, intrusivo ou desajuizado;
  • Tanto o impulso, como a preocupação ou o ato de comprar originam bastante stress, perda de tempo e interferem profundamente no funcionamento laboral ou social da pessoa;
  • Estes comportamentos repetitivos e incontroláveis são completamente absorventes, sentindo-se o sujeito incapaz de se lhe subtrair;
  • Os compradores compulsivos não conseguem resistir ao impulso das compras, especialmente quando se sentem irados, com medo, deprimidos e aborrecidos, funcionando a compra como uma fuga à realidade problemática que estão a viver;
  • A compra compulsiva pode também corresponder a uma sensação de poder e de excitação;
  • Em muitos dependentes, depois da compra vem o stress e o caos, ocorrendo frequentemente o esquecimento total das coisas adquiridas, e do porquê da compra;

[h2]Personalidade[/h2]

Algumas das características de personalidade mais comuns entre os compradores compulsivos são nomeadamente:

  • baixos níveis de auto-estima;
  • ansiedade;
  • sentimentos de inadequação;
  • compulsividade;
  • dificuldade em tolerar a frustração, a solidão e a rejeição.

[h2]O que fazer?[/h2]

Resumindo: se, nesta ocasião, em que tanto se fala de poupança e na necessidade de reduzir nas compras, sentir, para além, do já exposto, mal-estar emocional aliado a:

  1. Excitação perante a expectativa das compras;
  2. Prazer na aquisição de objectos supérfluos;
  3. Arrependimento e remorsos pelo dinheiro gasto e pela perda de controlo;
  4. Repetição do ato para superar o mau estar;

 

Considere a hipótese de as compras estarem a cumprir uma segunda função na sua vida, de compensação e compulsividade, e que requer medidas correctivas.

Em termos de tratamento, a conjugação do acompanhamento farmacológico e psicoterapêutico (nomeadamente a intervenção cognitivo-comportamental), têm-se revelado uma excelente solução, implementando intervenções conducentes à eliminação de sintomas e desenvolvendo estratégias mais profundas, que enfrentam a causa real do problema e que promovem o reforço da auto-estima.