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Autor: Marisa Gamboa

“Quando acabamos de fazer tudo o que viemos aqui fazer na terra, podemos sair do nosso corpo, que aprisiona nossa alma como um casulo aprisiona a futura borboleta. E, na hora certa, podemos deixá-lo para trás, e não sentimos mais dor, nem medo, nem preocupações – estamos livres como uma linda borboleta voltando para casa, para Deus…”

(Carta de uma criança de 8 anos in Kubler-Ross, 1998)

 

A morte parece ser mesmo o nosso maior problema! Será?

Nos últimos anos, muitos são os profissionais que têm desenvolvido um trabalho de excelência no âmbito dos Cuidados Paliativos em Portugal. Não se dedicam à morte, dedicam-se, evidentemente, à vida! O foco, não se encontra na quantidade de vida, mas na qualidade. Importante – deixar de encarar a morte como uma lacuna da medicina, ou frustração ou até, como uma falta de investimento. Importante – olhar para a pessoa, de forma única, cuidada e profissional, procurando acompanhar todas as suas necessidades, quer de natureza física, psíquica, espiritual, social, familiar.

A prioridade é, repito, qualidade e nunca a sobrevivência! Cura e prevenção caiem em desuso!

É urgente falar em cuidados paliativos, cuidados que na verdade representam uma resposta face aos problemas que decorrem de doenças incuráveis e progressivas. É urgente trabalhar a dor e o sofrimento dos doentes e das suas famílias. É urgente trabalhar a comunicação aos doentes e às famílias. É urgente conhecer os direitos…

As Necessidades do Moribundo – David Kesler 2001

1- Tratado como um ser humano;

2- Manter o sentido da esperança, mesmo havendo a mudança do seu foco;

3- Cuidado por cuidadores que mantenham esperança:

4- Expressar sentimentos e emoções sobre a morte;

5- Participar na tomada de decisões que digam respeito aos seus cuidados;

6- Cuidados por pessoas com compaixão, sensibilidade e conhecimentos;

7- Continuidade de cuidados;

8- Resposta a todas as perguntas de forma honesta e completa;

9- Procurar espiritualidade;

10 – Controlar a dor;

11- Expressar sentimentos e emoções sobre a dor;

12- Crianças participarem na morte;

13- Compreender o processo de morrer;

14- Morrer em paz e dignidade;

15- Morrer acompanhado;

16- Respeito pelo corpo no pós-morte..

 

Muitas são as questões que podem surgir depois de um diagnóstico de uma doença grave, incurável, em estado avançado e com um prognóstico de vida limitado. Qual o sentido da vida? Da minha existência? Qual o sentido da dor? O que ainda posso fazer? O que ainda quero fazer? Como posso dar sentido?

Parece estranho, caminhar neste caminho, onde o forte e o belo e o perfeito parecem vazios, onde a fragilidade e a dependência conquistam terreno. E onde entrará a dignidade?

A morte provoca medo, porque, na verdade, a morte parece estar, em alguns momentos ausente da nossa consciência, na verdade provoca o medo da perda, da ausência, do vazio.

Mas e como disse, Marie de Hennezel, “ os que vão morrer, ensinam-nos a viver”

 “O sonho é o guardião da vida.

Vida é Futuro.

Futuro é Construção.

Sentir o pulsar do Outro!

E há aqueles que passam uma vida

inteira

sem sentir o pulsar do

outro,

quer dizer,

sem terem vivido.”

António Coimbra de Matos,

psicanalista