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Bruna Rosa

Bruna Rosa

Um divórcio é, na maior parte das vezes, um processo que comporta em si uma multiplicidade de afectos fortemente ambivalentes (alegria vs. tristeza; calma vs. raiva; esperança vs. desespero) e do qual resultam, não raras vezes, dificuldades de readaptação significativas.

De facto, surgem muitas vezes associadas ao divórcio (sobretudo quando litigioso) ideias de libertação, recomeço, tranquilidade mas também medos múltiplos. Uma ruptura relacional comporta, incondicionalmente, uma perda – do outro, do si mesmo enquanto elemento de um casal, da estrutura familiar (quando existente)… impelindo os elementos do ex-casal a um conjunto de mudanças externas e internas.

No plano dos afectos, o divórcio associa-se muitas vezes à desconstrução (forçada) da imagem naïf (construída pela maioria de nós durante a infância repleta dos finais felizes das histórias de encantar) de um “viveram felizes para sempre”. Por este motivo, resultam dele com alguma frequência experiências intensas de culpa, tristeza, frustração e, não raras vezes, de desesperança relativamente ao futuro do campo da intimidade.

Na prática clínica contactamos a dificuldade mais premente que tendencialmente encontramos em pacientes que passaram por uma experiência de ruptura (sobretudo marital) prende-se, efectivamente, com questões em torno do “E agora? Será que mais alguém vai gostar de mim? Será que vou ser capaz de me apaixonar novamente?”. Esta experiência parece ser particularmente difícil em situações de ruptura mais tardia, na medida em que é também agravada pela percepção da condição de isolamento social – “Todos os meus amigos estão casados… com quem é que agora vou poder falar e partilhar a minha vida?” – e pela inibição dos afectos próprios, motivada frequentemente pela pressão social percebida – “Eu já não tenho idade para voltar a namorar… o que é que as pessoas diriam de mim?”.

A Sociedade e a Cultura têm, de facto, um papel de relevo numa parte substancial do modo como experiências dolorosas são vivenciadas a nível interno/psíquico. No caso específico do divórcio, existe uma componente religiosa que agudiza a vivência de mal-estar associada à experiência de pós-ruptura, na medida em que promove a conexão entre o casamento e a unicidade do casal – “Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne (…) Portanto, não separe o homem o que Deus uniu” (São Mateus, 19). Independentemente da religiosidade de cada um, a percepção social reproduz fortemente valores associados à crença religiosa maioritária. Deste modo, mantêm-se ainda um conjunto de pré-conceitos em torno das pessoas divorciadas que penalizam um processo já difícil para os que nele são envolvidos directamente – casal e filhos.

De facto, ainda que assistamos a um escalar progressivo do número de divórcios (havendo também um aumento nos divórcios por mútuo acordo e uma diminuição dos divórcios litigiosos) que, numa perspectiva psicossocial, reflecte também uma maior abertura ao direito a ser-se feliz e, portanto, a recomeçar-se o sonho, são comuns os casos em que o pós-divórcio é vivido como um luto do próprio, negando-se a possibilidade de reestruturar os afectos.

É adaptativo o medo do novo, do diferente, do (re)começo mas o medo torna-se desadaptativo quando bloqueia o caminho e inibe que nos permitamos voltar a sentir amor e a recebê-lo. O ser humano é um ser gregário por excelência – precisamos dos outros e precisamos de partilhar com eles os nossos pensamentos, as nossas emoções, as nossas dúvidas, os nossos desejos. Viver é uma experiência fortemente relacional. É de quem gostamos que mais nos lembramos quando nos sentimos tristes, sozinhos, angustiados. Quando estamos doentes e/ou fragilizados os outros (ou a sua ausência) tomam um papel de relevo na forma como nos relacionamos com a doença ou a dor. Quando folheamos álbuns… não são os outros que (re)encontramos? Não é com eles que habitam as nossas memórias mais aconchegantes?

Amar e ser amado é algo de inerente à nossa própria identidade, construído no decorrer da vida em torno do modo como nos ofereceram e/ou recusaram os afectos.

Porque por vezes é preciso coragem para se ser feliz… esperamos por si no nosso Cantinho Psicoterapêutico, plantado na Oficina de Psicologia.