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Autor: Inês Carvalho

Se entendermos o espaço psicoterapêutico como um espaço onde possam ser expressas as nossas angústias, conhecidos (ou reconhecidos) os nossos medos, discutidos os nossos problemas ou exploradas as soluções para os mesmos; poderá surgir-nos uma imagem algo parecida com um espaço onde duas pessoas se sentam e conversam.

E quando falamos de crianças, será assim? Conseguimos entendê-lo da mesma forma? Conseguirá uma criança sentar-se e expor-nos as suas preocupações durante cinquenta minutos? Talvez sim, talvez algumas consigam. Mas não é vulgar. Podemos até pensar no quão difícil esta situação de se sentar e simplesmente falar poderá ser difícil para um adulto.

Sabemos que a infância é, por excelência, um período de largo desenvolvimento das capacidades motoras, cognitivas, sensoriais ou comunicacionais. Percebem-se mudanças e evoluções em espaços de tempo muito curtos, uma fase de enorme dinamismo. Percebemos, então, que devemos estar atentos a todas estas mudanças. Mas, e se queremos perceber o mundo daquela criança, que estratégias vamos utilizar?

De facto, a linguagem surge como forma de expressão privilegiada pelo ser humano. Mas, no caso das crianças, a comunicação (bem como o processo de socialização) é, frequentemente, facilitada por meio da brincadeira. É entre brincadeiras que fazem novos amigos e é, muitas vezes, nessas mesmas brincadeiras que, de forma subtil, vão expressando o que sentem.

Então, e se queremos ser facilitadores deste processo de mudança, adaptamo-nos. Adaptamos técnicas e utilizamos a forma comunicação que seja mais confortável para a criança. Utilizamos o jogo, o desenho, a leitura e a construção de histórias para aceder ao seu mundo.

Falamos de uma forma redutora de comunicar? Talvez não, se a linguagem é também um meio de dissimulação de emoções (Santos, 2009). Talvez esta seja uma forma especial de comunicar, na qual a criança nos mostra o seu mundo de forma espontânea e livre. E dentro desta forma especial de comunicar, procuramos, ainda, as preferências de cada criança. Percebemos quais os estímulos a que são mais sensíveis e trabalhamos através deles.

Tal como no processo terapêutico de um adulto, trata-se, aqui, de partir da zona de conforto da criança para, depois, ir explorando lugares onde é mais difícil estar.

Santos, J. (2009). É através da via emocional que a criança apreende o mundo exterior. Lisboa: Assírio & Alvim.