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Equilibrando a vida

Atualmente vivemos numa época em que cada vez mais profissionais almejam uma carreia de sucesso, o que os faz dedicar grande parte do seu tempo (mais de 40 horas por semana) ao trabalho. Exigências e desejo de qualidade e competência no trabalho, estabelecimento de prazos apertados, a distância que se percorre entre casa e trabalho, mudança de cidade/país/continente na procura de uma ascensão na sua carreira. Tudo isto mantém os trabalhadores cada vez mais ocupados com o seu trabalho. Talvez estaremos a assistir a uma redefinição daquilo que são os objetivos de vida de todos nós. Se antes o objetivo era o homem conseguir o seu trabalho para que a mulher ficasse em casa a cuidar da família, hoje, tanto o homem como a mulher, procuram cada vez mais uma carreira de sucesso que lhes traga consideração e estabilidade financeira. Vivemos numa era em que as exigências e pressões externas são cada vez maiores, a competitividade aumenta e a ambição por uma carreira bem-sucedida ganha cada vez mais relevância nas nossas vidas. Observamos, por isso, uma nova classe de trabalhadores bem-sucedidos que, fruto do seu esforço e empenho, têm atualmente cargos de elevada responsabilidade. Observamos também trabalhadores cada vez mais novos a ascenderem rapidamente ao topo da sua carreira, o que justifica a presença de pessoas cada vez mais novas em cargos de chefia. Por último, observamos cada vez mais mulheres a progredir nas suas carreiras e a obter cargos de grande responsabilidade e de direção. Mas será que trabalhadores bem-sucedidos são também eles pessoas bem-sucedidas?

 

Sabe-se que cada indivíduo possui vários papéis ao longo da sua vida. Ora, perante o tempo, espaço e todas as exigências que o papel de trabalhador acarreta, onde fica o tempo para se dedicarem aos outros papéis da sua vida? Ao papel que desempenham na família, ao papel que desempenham nas suas relações afetivas? Quando a prioridade assenta no trabalho, tudo o resto parece ficar para segundo plano. Talvez poderemos estar a falar na existência atual de um conflito entre trabalho e família/relações afetivas, que pode trazer diversas consequências negativas ao nível físico, psicológico e comportamental. Neste caso, o conflito entre trabalho e família traduz-se num fenómeno em que as exigências e pressões do papel desempenhado no trabalho são incompatíveis, interferem ou dificultam o desempenho do papel na família/relações afetivas. O tempo que o trabalhador investe no seu trabalho, a tensão que o trabalhador sente com as preocupações e exigências cada vez maiores no desenvolvimento da sua carreira e até mesmo o comportamento que o trabalhador tem no contexto de trabalho que, muitas vezes, é incongruente com o comportamento desejado ou adequado no contexto de família (por exemplo no caso de posições de poder), contribuem para o início e aumento deste conflito. Este conflito pode, assim, contribuir para o desgaste de muitas relações afetivas, para o conflito dentro da família ou das relações afetivas, muitas vezes, terminando na rutura dessas mesmas famílias ou relações afetivas. Tudo isto pode ter várias consequências negativas. Ao nível físico pode verificar-se uma diminuição das defesas naturais, pelo que se observa uma fraca saúde em geral, incluindo sintomas somáticos específicos como dores de cabeça e de costas, problemas gastrointestinais, fadiga, privação de sono e dor no peito. Já ao nível psicológico, aliado ao stresse, verificam-se mais sintomas depressivos e ansiosos. Ao nível comportamental, pode dar-se o aumento do consumo de substâncias como o tabaco, café e álcool, assim como a diminuição de hábitos saudáveis, como a prática de exercício físico ou refeições equilibradas. Quantos de nós, sob stresse, não demos por nós a andar numa correria tal que deixamos de nos preocupar com o que comemos, por exemplo? Todas estas mudanças ao nível físico, psicológico e comportamental podem também contribuir, em última instância, para o fenómeno chamado burnout ou esgotamento, em que ocorre uma exaustão emocional e a pessoa deixa de aguentar as exigências do trabalho, dando-se um colapso físico e mental, sendo necessária a ajuda de profissionais de saúde.

 

Tudo isto nos faz pensar no quão difícil poderá ser manter o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal. Difícil, mas não impossível! Porque afinal de contas a realização pessoal não só depende da realização profissional como também da realização em todas as áreas da nossa vida! Desta forma, quanto mais consciência tivermos do que precisamos para sermos bem-sucedidos na nossa vida, mais facilmente encontramos o equilíbrio entre os vários papéis e o sucesso.

 

Este artigo foi publicado na Revista Chocolate em Abril, 2016

 

Referências bibliográficas:

McNall, L.A., Masuda, A.D., & Nicklin, J.M. (2010). Flexible work arrangements and job satisfaction/turnover intentions: The mediating role of work-to-family enrichment. Journal ofPsychology: Interdisciplinary & Applied, 144, 61-81.

 

Dierdoff, E., & Ellington, J. (2008). It’s the nature of the work: examining behavior-based sources of work–family conflict across occupations. Journal of Applied Psychology, 93 (4), 883–892. doi: 10.1037/0021-9010.93.4.883.