As famílias adotivas são novas formas de família que se constituem quando recebem no seu seio, com responsabilidades parentais, um novo elemento sem laços de parentesco biológico. É consensual que a sua formação coincide com a chegada do adotado a casa.
Trata-se de um período constituído por duas fases distintas: a primeira, que se prolonga desde a descoberta da infertilidade do casal até à tomada de decisão da adoção – período de sofrimento físico e psicológico; a segunda, que decorre desde a decisão da adoção até à entrega da criança, e na qual as famílias de origem, os amigos e a comunidade surgem como novos atores, desempenhando importantes papéis na constituição da história familiar.
Neste tipo de famílias impõem-se duas exigências para que o bem-estar prevaleça: aceitação das diferenças por parte de todos os elementos e das particularidades do evoluir do seu ciclo de vida.
A adoção significa uma grande complexidade de emoções, necessidades e interações. É uma decisão que afeta todos os intervenientes e que, muitas vezes, deixa as famílias sob grande stress.
Torna-se fundamental que a criança seja integrada o mais cedo possível na família que a vai adotar para que se desenvolva, de forma positiva, o equilíbrio afetivo e a parentalidade. Deverá estabelecer-se rapidamente uma forte ligação aos novos pais, a fim de minimizar os sentimentos de insegurança desenvolvidos até ao momento da adoção e que assumirão uma importância vital no seu desenvolvimento.
Outro aspeto muito importante é a revelação à criança que é adotada. Não existe consenso relativamente à melhor idade, embora todos os autores concordem que deve ser feita o mais cedo possível e pelos pais adotivos. De um modo geral, os pais adotivos devem fazê-lo quando considerarem que a criança é suficientemente madura, sendo que esta deverá sentir-se sempre segura e apoiada emocionalmente.
Em crianças mais velhas (10 a 12 anos), todo este processo terá de ser alterado. As famílias têm de ajudar a criança adotada a desenvolver um sentimento de pertença e vínculos afetivos, contribuindo para que a família adquira um maior sentido de equilíbrio e estabilidade.
A adoção implica uma perda para todos os membros da família: os pais e a criança adotada experienciam sempre um conjunto de perdas que implicam um luto; ambos lidam com a questão da vinculação, da separação e da descontinuidade genealógica e todos se confrontam com um processo singular de formação da identidade individual e/ou familiar. A perda sentida pela criança adotada centra-se na sua identidade, na relação perdida com os pais biológicos e na ausência de um vínculo genético com a família adotiva. Muitas vezes, apenas com três ou quatro anos de idade, a criança percebe que a sua história familiar é diferente da história das outras crianças. É nesta altura que ela começa a interiorizar que o processo que envolveu a sua vinda para aquela família não foi “normal”, através do nascimento. Esta racionalização é feita várias vezes ao longo do seu crescimento, sempre que atinge um nível diferente do desenvolvimento cognitivo.
Tanto os pais adotivos como a criança adotada desenvolvem expectativas sobre as suas respetivas situações. No que diz respeito à criança, na maior parte das vezes, os pais biológicos ainda estão vivos, pelo que é frequente ela fantasiar sobre a possibilidade de eles voltarem, fazendo-os permanecer durante muito tempo na sua vida mental. Contudo, este regresso significaria a perda dos pais adotivos, os únicos que conhece e ama, colocando-a num grande dilema.
Desta forma, os dois tipos de famílias, natural e adotiva, e cada um dos seus protagonistas, continuam, apesar de tudo, a estar presentes na vida uns dos outros. Esta presença, como já vimos, envolve tanto a realidade como a fantasia. No plano da realidade, pais e crianças adotivas estão diariamente em contacto uns com os outros. Na fantasia, as crianças adotadas idealizam sobre quem são e como são os seus pais biológicos; os pais adotivos fantasiam sobre como seria o filho biológico que nunca tiveram.
Independentemente de todos os fatores referidos, nunca é tarde para se demonstrar a uma criança, adotada ou não, que é amada, e que os pais são as pessoas mais felizes por a terem!