“Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor”…
A plasticidade de funcionar do ser humano é uma das características que este tem para, no decorrer da sua vida, moldar-se às várias realidades pelas quais vai vivendo e, muitas delas podem contrastar, algumas vezes, com os padrões educacionais, culturais, sociais e morais interiorizados, e que muita das vezes origina situações de grande conflituosidade e sofrimento.
Segundo o inquérito Saúde e Sexualidade, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, divulgado em 2008, cerca de 12,5% dos portugueses inquiridos assumem já terem traído os seus parceiros.
De facto, muito se fala sobre infidelidade e é importante existir um debruçar acerca daquilo que engloba este tipo de comportamento e onde intervêm variáveis várias como variáveis de índole emocional, de personalidade, entre outras.
Pretendendo refletir sobre a perspetiva psicológica deste ato, que pode ser pontual ou frequente, pode dizer-se que existem três tipos de infidelidades nas relações amorosas: a infidelidade emocional (quando o parceiro despende recursos emocionais como tempo, amor e atenção a outro indivíduo), a infidelidade física (resultado de atividade sexual com outro indivíduo que não o parceiro principal) e a infidelidade combinada, que incorpora as duas anteriores e que tem sido demonstrado que tem maior ameaça à união do casal do que qualquer envolvimento emocional ou sexual isolado.
Em termos clínicos, e quando este é um tema central no processo psicoterapêutico, subjacente a um quadro de sofrimento, uma das avaliações fundamentais do psicólogo é avaliar os fatores que contribuíram para a ocorrência da infidelidade; se a relação conjugal é ou não satisfatória para o próprio.
De forma genérica, convém salientar que as motivações subjacentes à infidelidade conjugal são inúmeras e com variados contornos. Convém primeiramente desmistificar a crença de que a infidelidade é sempre um indicador de que a relação conjugal primordial é de qualidade negativa.
De facto, quem ama o outro pode trai-lo, mesmo existindo um relacionamento satisfatório e onde existe reciprocidade e intensidade emocional (Feldman). Algumas pessoas dão por si numa situação de infidelidade por ocorrência de situações que comportam grande stress, como o facto de ser pai ou ser mãe, ou quando os filhos saem de casa, etc. Outras, configuram o seu sofrimento no “fora”, protegendo o núcleo amoroso. São estes casos “eu amo mas traí… e agora?” que geram maiores níveis de culpabilidade e que mais facilmente socorrem-se de ajuda psicológica.
Numa dimensão psicobiológica, pode dizer-se que a atração não raras vezes se sobrepõem à esfera do envolvimento emocional, sobretudo quando a denominada fase de paixão do casal já teve lugar. Numa relação saudável, ambos os elementos da relação terão que conviver com estes aspetos e riscos associados. Amar comporta também riscos, dor.
Noutro plano, e sintomático de uma relação não saudável, não satisfatória, existe no entanto situações de falta de nutrição emocional do outro, o outro que não satisfaz, o outro que não ouve, que não valoriza e não ama incondicionalmente. Muitas vezes, como forma de defesa perante a dura realidade de uma relação infeliz, surge a traição, a infidelidade como formas de agressividade, e zanga com e para o outro e que não é expressa.