Autor: Fabiana Andrade
Muitas pessoas queixam-se hoje em dia de um ruído constante do pensamento. A cabeça não pára um segundo, seja com tarefas do dia a dia, seja com pensamentos antecipatórios sobre o futuro, seja com pensamentos sobre o que aconteceu no passado, seja com auto-críticas constantes.
Muitas das informações que passam sobre o nosso pensamento, são saudáveis e adaptativas e por isso, úteis para nos ajudar a funcionar no mundo. Assim, a capacidade de pensar sem dúvida que nos deu vantagem enquanto espécie. Permite-nos planear, aprender, antecipar, evoluir.
Mas será que precisamos pensar o tempo todo sobre tudo? Não, não precisamos.
Viver no pensamento, em vez de usar o pensamento como um recurso, é algo muito comum nos dias de hoje, agrava a vivência da ansiedade e da depressão.
Muitas pessoas não se apercebem que vivem no pensamento, como se vivessem numa realidade paralela, e por vezes, em terapia, ficam chocadas quando isso é demonstrado. Apercebem-se de quanto estão desconectadas da realidade, ficando presas no seu mundo mental que nunca se cala.
À medida que ficam desconectadas, a vida passa a apresentar uma série de problemas, pois a manutenção necessária não está a ser feita.
O exemplo que muitas vezes dou aos meus clientes é o de um jardim. Ou seja, imagine que a sua vida é um jardim, e você é o jardineiro que vive neste jardim. Quando o jardineiro passa mais tempo a pensar do que a viver, é como se ele estivesse sentado neste jardim a olhar para o céu, perdido em seus pensamentos, e enquanto isso crescem ervas daninhas, plantas ficam por regar, e o jardim mais cedo ou mais tarde vai acusar esta falta de cuidado.
Mas como fazer para o jardineiro sair do seu mundo mental e começar a estar presente no seu jardim? Observando tudo o que se passa nele, e fazendo as mudanças necessárias para que o jardim esteja sempre bem cuidado?
A resposta é só uma, Mindfulness!
Mindfulness é a capacidade de sermos observadores de nós próprios, sem julgamentos, sem ruídos mentais. A capacidade de estar presentes no momento actual, sem antecipar ou voltar atrás.
Isso significa que paramos de pensar? Não. Significa que conseguimos observar e aceitar o que pensamos, sem sermos reféns das cadeias associativas típicas do pensamento.
Assim, a cabeça fica mais silenciosa, falando apenas na hora certa. As emoções ficam mais claras, e as sensações mais acessíveis. Passamos a ver a vida e a nós mesmos com uma maior nitidez, como se fosse uma televisão HD!
Se o jardim é a minha vida e eu sou um jardineiro Mindful, todos os dias estou lá, sentindo os cheiros, a temperatura do ar, sentindo o meu corpo neste momento, percebendo quais são as necessidades do meu jardim, podendo assim satisfazê-las. Por isso, o meu jardim prolifera e torna-se mais feliz.
Não é impossível para ninguém transformar-se num jardineiro Mindful, basta querer e trabalhar para isso. Conhecendo profundamente o Mindfulness e praticando.
Fabiana Andrade