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Autor: Rita Castanheira Alves

E eu? Será que estou?

“Passou tão rápido…”, pensamos tantas vezes quando terminamos as férias, quando chegamos ao Natal, quando terminamos o fim-de-semana, quando fazemos o balanço de há quantos anos estamos naquele projeto ou quando é o nosso aniversário. Em relação ao crescimento dos filhos não é diferente. Passa realmente rápido e se o seu filho entrou este ano lectivo para o 1º ciclo, tenho a certeza que já deu por si a pensar “ Passou tão rápido…”.

 

De seguida, vai até ao quarto onde ele está a brincar e fica a observá-lo e… “ Mas ele ainda não está preparado para ir para a escola…”. A muitos pais e a muitas mães surge este receio.  Na verdade, o ingresso no 1º ciclo do ensino básico é uma fase de grandes mudanças e de um nível elevado de exigências e novidades: horários de trabalho mais longos, nova postura em sala de aula, novos materiais, diferentes disciplinas, novas aprendizagens. As rotinas são alteradas, há menos tempo de brincadeira, mais tempo de tarefas para realizar, por vezes vem a saudade das educadoras ou dos educadores e a vontade de levar brinquedos para a mesa da sala de aula.

 

É objectivo da educação pré-escolar preparar a criança e potencializar as suas capacidades, prevenindo o insucesso no ingresso no 1º ciclo. No entanto, frequentemente é sentido pela criança que ingressa no 1º ciclo grandes diferenças nas rotinas, no ambiente e nas tarefas, o que leva a que possam ser sentidas e manifestadas dificuldades de adaptação e de aquisição de novos hábitos. Estas poderão ser vivenciadas de uma forma saudável, sendo apenas consequência de uma adaptação a uma nova realidade e vão diminuindo com o tempo ou poderão, se muito dolorosas ou traumáticas para a criança, levar a quadros problemáticos de recusa escolar, fobia social, ansiedade, dificuldades de socialização, baixa auto-estima e baixo rendimento escolar.

 

O pai, a mãe, a tia, o avô, quem me estiver a ler, pode ser um precioso elemento na adaptação do futuro aluno que inicia agora esse desafiante caminho. Não só a relação estabelecida entre a família e a escola é essencial para a adaptação da criança, como é fundamental que as famílias criem um ambiente estimulante e seguro que favoreça as aprendizagens e a adaptação aos desafios e fases do processo educativo.

 

“Mas ele é tão pequeno? Como dará conta de tudo? E eu não vou poder lá estar…” Sim, também sei que estas questões vagueiam na sua mente e de tantos outros pais que se deparam com a fase em que o seu filho está agora. É provável que experimente ansiedade, que construa na sua mente todos os cenários possíveis do que poderá correr mal, que se preocupe com a qualidade da equipa que o vai acompanhar, que receie como é que ele vai reagir à matéria, se ficará sentado na sua cadeira quando é suposto, se irá gostar. Acredite, os pais pensam em tudo isso e muito mais. A investigação mostra-nos que grande parte das famílias se sentem ansiosas e receosas perante o ingresso dos filhos no 1º ciclo do ensino básico, sendo a reação dos filhos perante novas responsabilidades a maior preocupação.

 

Não estará sozinho(a) nesta nova fase de tantos desafios e estou certa que dará o seu melhor para o sucesso do seu filho, conhece-o como ninguém.

Da minha experiência com pais, crianças e escolas deixo um conjunto de estratégias úteis que certamente poderão ajudar:

– Converse com o(a) professor(a), coordenador(a) ou diretor(a), não deixando as dúvidas e receios por esclarecer. É importante que seja assistido na adaptação e possa expor os seus pontos de vista;

– Ir conhecendo e trocando algumas impressões com outros pais poderá também ajudar, diminuir a preocupação e receio e a sentir-se mais acompanhado(a);

– À semelhança do que já se passou anteriormente ou se está a passar pela primeira vez, a despedida deve ser feita num tom calmo, sem choro da sua parte, com um afecto e um “- Até Logo!”, mas nunca deixe de se despedir, mesmo que de forma descontraída e prática;

– As rotinas continuam a ser muito importantes e transmitem segurança às crianças, pelo que perante uma mudança tão grande como a transição para o 1º ciclo, as rotinas devem ser conservadas (horário para refeições, para dormir, para acordar) e devem ser evitadas grandes mudanças nesta fase (de casa, de quarto, de cidade ou país…);

– É essencial que faça por cumprir a pontualidade e assiduidade do seu filho na escola, o que irá proporcionar maior segurança e construir o seu sentimento de pertença e rotina na escola;

– É importante explicar (atenção às explicações muito pormenorizadas que poderão gerar ansiedade) e esclarecer todas as questões do seu filho relativamente à nova escola ou aos desafios do 1º ciclo, procurando sempre não criar demasiadas expectativas ou fornecer informações das quais não tem a certeza (“ – A escola tem um escorrega e baloiços!”; “ – A professora é fantástica, vais adorá-la!”);

– Depois de conhecer a equipa e sentir-se apoiado(a) no esclarecimento das suas dúvidas e preocupações, confie nas orientações da equipa, são técnicos que têm experiência e objectivos delineados;

– Em casa, reserve um momento do dia para que o seu filho lhe possa explicar o que fez na escola, que trabalhos tem, o que aprendeu, o que gostou, o que não gostou. Equilibre estes momentos com outros apenas dedicados ao lazer e à brincadeira, em que a escola não será o assunto;

A transição para o 1º ciclo como qualquer mudança necessita de tempo. É essencial gerirmos a nossa tranquilidade para que consigamos dar esse tempo próprio de qualquer adaptação, nunca esquecendo que cada criança, como qualquer indivíduo tem também o seu tempo próprio para se adaptar. Respeite o tempo de adaptação do seu filho.

Em breve verá: o seu filho já está no 1º ciclo.