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Cláudia Sintra VieiraAqui há uns tempos, um cliente falava-me a respeito do término da sua relação, uma separação dolorosa que lhe provocava um grande vazio. A namorada tinha-se apaixonado por outra pessoa e subitamente saiu de casa para ir viver com ele.

“O meu coração parou!” “Tiraram-me o tapete debaixo dos pés” – dizia ele.

 

Seguiram-se meses de mágoa, sofrimento, raiva e culpabilização (“o que será que fiz?”; “deveria ter sido diferente”; “talvez não tenha sido suficientemente bom para ela”).

Agora e passado alguns tempos, diz gostar da sua independência, que se sente feliz por estar… simplesmente consigo próprio. “Já nem penso nela, nem sinto necessidade de estar com ela” – afirmava. Mas, enquanto o dizia, os olhos enchiam-se de uma forma muito subtil de lágrimas.

E estas lágrimas poderiam não querer dizer nada. Mas o saber diz-nos que quando alguém tem os olhos rasos de água é porque, de alguma forma, está a sofrer, mesmo que as palavras digam o contrário.

E a isto chamamos a reação da mente emocional e a reação da mente racional.

Porque num sentido muito real, temos duas mentes, uma que pensa e outra que sente.

 

Talvez até nem seja algo de novo para si. A realidade é que estas duas mentes interagem para construir a nossa vida mental.

É aquilo que muitas vezes chamamos “o que me diz o coração” vs “o que me diz a cabeça”.

Por um lado a mente racional é a nossa compreensão, entendimento, consciência sobre as coisas, é no fundo aquilo que nos permite pensar, ponderar e refletir sobre o mundo, sobre as relações … sobre tudo.

Por outro lado existe um sistema de conhecimento mais impulsivo e poderoso – a mente emocional. Esta é muitas vezes “uma resposta rápida mas trapalhona”, pois é muito mais veloz do que a mente racional, entrando em ação sem “pensar” no que vai fazer.

O problema por vezes é que a rapidez da mente emocional exclui por completo a reflexão deliberada que é característica da mente pensante. Nunca lhe aconteceu depois de a “poeira assentar” pensar: “mas porque diabo fui eu fazer aquilo?” – este é um sinal de que a mente racional está a despertar.

E entra aqui a dicotomia emocional/racional, pois quanto mais intenso é o sentimento mais dominante se torna a mente emocional e mais ineficaz a racional.

 

Mas esta rapidez da mente emocional nem sempre é algo negativo.

E porquê?

Bem… está relacionado com a evolução do nosso cérebro e do ser humano. É evolutivamente vantajoso deixar que as emoções e as intuições guiem as nossas respostas instantâneas em situações em que a nossa vida corre perigo, e em que fazer uma pausa para pensar poderia ser o preço a pagar pela nossa sobrevivência.

 

Contudo estas duas mentes também podem funcionar de forma simbiótica, utilizando os diferentes saberes para nos guiar através do mundo.

Como?

Habitualmente, há um equilíbrio entre a mente racional e a mente emocional, em que a emoção se alimenta e ao mesmo tempo informa as operações/intervenções da mente racional, e esta refina e por vezes filtra as contribuições da emoção.

Percebe-se portanto que na maior parte das circunstâncias, estas duas mentes estão coordenadas: os sentimentos são essenciais para o pensamento, tal como o pensamento para os sentimentos.

E por isso mesmo não podemos dizer qual das mentes é mais importante para nós, pois cada uma tem a sua funcionalidade.

 

“Mas quando as paixões crescem a balança desequilibra-se” – dizia ele.

Sim, desequilibram-se e volta de novo o conflito e a mente emocional assume o controlo, dominando a mente racional.

É importante termos em perspetiva que apesar destas duas mentes existirem, somos nós que comandamos a nossa vida! Podemos por vezes tentar inibir a resposta emocional quando ela não é vantajosa para nós e dar lugar ao lado mais racional.

 

E mesmo assim de que seria a vida sem este conflito? De que forma aprenderíamos a viver e a estar com o sofrimento para que depois possa surgir a felicidade? É em momentos de crise que aprendemos o que queremos ou não para nós e para a nossa vida e para isso precisamos de sofrer. E sobretudo de aprender a lidar com esse sofrimento, pois é isso que nos fortalece!

E no fim ele disse …

“ Chego à conclusão que amor nenhum me pode salvar se não tiver amor-próprio” – e aqui voltamos a ter o equilíbrio racional e emocional!

 

Em suma, estas mentes existem e têm funções evolutivas mas dê tempo a si mesmo para processar o que se passa consigo e na sua vida sem se deixar enredar demasiado ou com o “coração” ou com a “cabeça”!

Viva … porque só se vive uma vez!