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Ana Crespim

Ana Crespim

Facebook, twitter, pinterest, linkedin, etc., etc. Vivemos numa geração ligada em rede, de partilhas, likes, estados, fotos…

Mas o que nos prende afinal às redes sociais? Que mais-valias elas nos trazem? E qual o impacto psicológico e emocional que estas podem ter?

Não é um tema linear, mas de tão envolvidos que estamos, quantas vezes reflectimos sobre o impacto das mesmas na nossa vida? Recentemente li um artigo que procurava explicar o motivo pelo qual pais e filhos não largam o computador, o telemóvel, o IPad, procurando sempre manter-se “on-line”.

As razões apontadas para o sucesso destas redes eram as seguintes:

– O permitirem entrar em contacto com outras pessoas de forma muito fácil, rápida e cómoda;
– Projectam apenas o que é positivo;
– A rápida gratificação que proporcionam – os likes e comentários às fotos e estados que postamos; a rapidez das respostas;
– O reconhecimento pessoal;
– E o sentir-se activo.

Ao ler os factores apontados, não pude deixar de me questionar que os mesmos factores que nos “prendem” às redes sociais, podem constituir-se como armadilhas disfarçadas… De facto, perante os casos que acompanho, do que acontece com a minha própria página e em conversas com amigos, dá para ver que as coisas não são tão lineares assim. Afinal, se é verdade que as redes sociais nos permitem contactar amigos, reais e virtuais, com grande facilidade, a mesma veracidade não se aplica totalmente ou de uma forma global, aos outros pontos enunciados.

A justificação dada para o ponto dois – Projectam apenas o que é positivo – surgiu com base nas fotos que são colocadas dos bons momentos passados na praia, com os amigos, ocultando as desgraças. Mas a verdade é que cada vez mais encontramos mais do que isto. Quantas vezes não acontece vermos ou postarmos algo mais melancólico, uma frase mais em forma de desabafo ou apelativa como: “Há dias em que nem sequer me devia levantar da cama!”. Ou então o que dizer a todos os apelos que são postados sobre pessoas desaparecidas, doenças, animais abandonados, crueldade, entre outros? Não dói ver?

A verdade é que as redes sociais também podem ter por objectivo apoiar causas, promover a tomada de consciência, mobilizar para a acção e para a interajuda. Mas claramente que ao fazê-lo apelam aos nossos sentimentos e colocam-nos em contacto com algo mais do que as belas fotos das jantaradas com os amigos. A menos, claro, que todas as pessoas que temos adicionadas não postem nada dessa natureza… Difícil, não? E nesta linha, pegando naqueles posts desesperados que por vezes acabam por nos sair das entranhas, em que carregamos no “publicar” mesmo antes de termos tempo de processar a informação, digamos que nos acontece postar algo a título de desabafo (daqueles que precisam de um feedback qualquer, sabe?) e que não obtemos resposta. Isto pode dever-se a inúmeros factores: a hora a que foi postado, o facto de poderem ter caído mais não sei quantas coisas no feed de notícias, deixando o nosso post bem lá no fundo, etc. Mas muitas vezes, estando triste, angustiado, ansioso, será que se consegue pensar nisto em vez de: “Ninguém me liga nenhuma! Quer dizer, acabo de postar um desabafo destes e zero comentários?! Ninguém me diz nada? Como podem eles ficar indiferentes ao que eu estou a sentir?”. Mesmo que seja pela positiva, imaginando, por exemplo, que postamos uma foto de um momento agradável, alteramos a foto de perfil, entre outras hipóteses, e o número de likes é nulo ou reduzido, os comentários são quase inexistentes, como se sente quando isto acontece? Aqui, para além de estarmos perante uma situação em que não é obtida gratificação, temos ainda uma situação que pode mesmo interferir com a noção de reconhecimento e valor pessoal.

É óbvio que nem todos reagimos da mesma maneira perante as mesmas situações. Características de personalidade, experiências anteriores, o contexto e o estado emocional aquando da vivência das situações, são factores que podem condicionar a forma como interpretamos e vivenciamos o mundo que nos rodeia. Por outro lado, as redes sociais já fazem parte das nossas vidas e trazem vantagens inegáveis para o nosso quotidiano. Resta estar atento a estes factores, enquadrar as nossas expectativas face ao que são e para o que verdadeiramente nos podem ser úteis, enquanto ferramentas de comunicação, e claro, não permitir que a nossa vida gire em torno das mesma – tal como na comida e em tudo o resto, o segredo é não abusar.

Falei aqui um pouco sobre o impacto pessoal que pode estar escondido numa inofensiva utilização das redes socias, detentoras de características capazes de nos deixarem agarrados ao telemóvel, IPad, computador e outros afins. E no que se refere ao impacto nas relações sociais presenciais? E nas relações conjugais? Fique atento à próxima publicação e não se esqueça: “off-line” pode querer dizer que estamos “on-life”.