O apoio da família no pós-parto

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O apoio da família no pós-parto

O nascimento de um filho constitui um importante marco no desenvolvimento de toda a família, implicando ajustamentos tanto do ponto de vista individual como do ponto de vista do sistema familiar. Dúvidas, desejos e expectativas que se criam, bem como necessidades que emergem, acarretam enormes desafios emocionais que, na maioria dos casos, se concentram (também por questões emocionais) na mãe.

Um estudo recente realizado pela UCLA – University of California (EUA), confirma a tese de que o forte apoio familiar prestado à futura mãe durante a gravidez constitui um factor de protecção, pela influência no desenvolvimento de uma hormona específica que actua na depressão pós-parto.

Dosear a emoção e forte vontade de querer estar perto do mais novo elemento da família e, em simultâneo, dar espaço (temporal e emocional) ao casal para se ajustar à nova realidade familiar é fundamental para o bem-estar de toda a dinâmica familiar, e para que os pais consigam criar as melhores condições, de modo a dar resposta às primeiras necessidades do recém-nascido.

Como pode então a família alargada ajudar sem ser intrusiva? De forma simples, o apoio da família revela-se particularmente útil sob a forma de disponibilidade para auxiliar o casal naquilo que este considerar importante. E de que forma pode o casal ajudar-se sem se isolar? Pedindo apoio e aceitando a disponibilidade dos outros para ajudar.

Já reparou em todas as novas tarefas que chegam com a parentalidade? Desenvolver novos laços emocionais, dar segurança ao bebé, protegê-lo, ajudá-lo a regular-se fisiológica e afectivamente, estimular, brincar e ensinar o bebé a desenvolver o auto-controlo… E a lista podia continuar. O momento da chegada de um bebé não é, efectivamente, o momento ideal para se querer ser “super-mãe, mulher, dona de casa, profissional, amiga…”. Por isso, delegue tarefas específicas em casa (o irmão mais velho ficar responsável, por exemplo, por organizar a roupa ou fazer a lista das compras), e peça ajuda para assuntos que tenham de ser resolvidos fora de casa (como pedir aos avós que passem no supermercado a comprar o pão e o leite para o dia seguinte). Deste modo, o casal ganhará tempo e espaço para se dedicar ao bebé, ao casal em si e à individualidade de cada um dos elementos. Sim, à individualidade. Uma mãe (e um pai, claro) não deixa de ser pessoa. A prevenção da depressão pós-parto também acontece no pós-parto. Sabe-se que o apoio do marido é importante nesta prevenção. Outro dos factores determinantes é a mãe mimar-se e rodear-se de apoio para se poder cuidar. Um banho relaxado, sem banda sonora de choro, uma caminhada de mão dada à beira mar, um jantar romântico fora de casa ou uma saída com amigas são formas de a mãe se mimar. E se em algum momento a palavra “culpa” pairar, lembre-se de que os bebés sintonizam emocionalmente com os cuidadores, pelo que uma mãe que cuida dela é uma mãe mais disponível para cuidar do seu bebé.

Assim se compreende como o suporte social e familiar se reveste de grande importância com a chegada de um filho. E, sem dúvida, a família e os amigos têm sempre a melhor das intenções, mas por vezes falham na forma de ajudar, por não saberem como podem ser úteis. Como ultrapassar este impasse?

O casal. Peçam ajuda naquilo que realmente precisam. É importante que se foquem no essencial e “poupem recursos”. Peçam a um familiar que vos faça as compras urgentes do supermercado e as leve a casa, a outro que vos prepare algumas refeições que possam ser congeladas, a um que vos passe a roupa a ferro, a outro que fique em vossa casa com o bebé durante umas horinhas para que possam tomar um banho relaxante e dormir um pouco de forma tranquila e sem sobressaltos… Sejam flexíveis.

A família e os amigos. Mostrem-se disponíveis, mas sem exageros. Num telefonema ou sms refiram que gostavam de ajudar no que o casal precisar, e que estão disponíveis e terão todo o gosto nisso: “Se precisarem de alguma ajuda, digam”. Respeitem o espaço e o tempo da nova família. Nos primeiros tempos não façam visitas surpresa, nem frequentes, não telefonem a toda a hora e não tentem adivinhar ou criar “necessidades” extra para se sentirem úteis. Sejam empáticos, simpáticos e bem-dispostos! Sejam flexíveis.

Inês Afonso Marques
Inês Afonso MarquesPsicóloga Clínica
2017-03-16T14:18:39+00:0018 de Setembro, 2014|
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